A arte do grafite é uma forma de expressão que ganhou força nas últimas décadas. Continua sendo motivo de discussões e incompreensões. Muitos aceitam, outros a rechaçam, por entender que suja a cidade e polui visualmente.
A primeira pergunta que pode ser feita, no meu entender, não é propriamente quem faz e por que faz grafite, mas por que se permite tanta parede e tanto muro, de forma desorganizada e desumana, em nossas cidades.
O grafite é a ocupação gráfica e lúdica do espaço público tomado pelo cinza medonho dos edifícios e do concreto, pela dureza dos muros e construções, pela frieza das intermináveis avenidas, pelo perigo, pelo ruído e fumaça dos veículos, pelos acachapantes painéis de publicidade.
A grande cidade é um lugar inóspito pra se viver. Vive-se do jeito que dá, porque, como as baratas, somos indestrutíveis.
O grafite é a ocupação gráfica e lúdica do espaço público tomado pelo cinza medonho dos edifícios e do concreto, pela dureza dos muros e construções, pela frieza das intermináveis avenidas, pelo perigo, pelo ruído e fumaça dos veículos, pelos acachapantes painéis de publicidade.
A grande cidade é um lugar inóspito pra se viver. Vive-se do jeito que dá, porque, como as baratas, somos indestrutíveis.
Os imensos paredões verticais, túneis e viadutos sufocam e remetem a um sentimento de prisão no enorme labirinto. Câmeras espalhadas por todo lugar vigiam os movimentos dos viventes.
A agressão aos sentidos é constante. A violência e o crime tornaram-se banais. As vítimas são só um número nas estatísticas. Parece não haver saída. Como no livro 1984, de George Orwell, viver é mera concessão do Grande Irmão que a todos governa e persegue. Não há outra possibilidade além de calar e adaptar-se.
A agressão aos sentidos é constante. A violência e o crime tornaram-se banais. As vítimas são só um número nas estatísticas. Parece não haver saída. Como no livro 1984, de George Orwell, viver é mera concessão do Grande Irmão que a todos governa e persegue. Não há outra possibilidade além de calar e adaptar-se.
Os fazedores de grafite, em geral, exprimem a sensibilidade acuada e ferida. Querem deixar sua marca, um traço que ecoa como um grito na paisagem difícil. Desde uma rude linha até uma composição figurativa elaborada e reflexiva. Estão aí.
É claro que nem tudo é arte nesse universo que tem nas ruas seu ambiente natural. Há riscos e signos de tal forma caóticos e agressivos que aumentam, ao invés de diminuir, a sensação de soledade e isolamento. A pichação, via de regra, tem esse efeito e é muito pobre. Pichar é rabiscar qualquer coisa que colabora para a poluição visual, tal como ocorre com a maior parte dos anúncios publicitários colocados na via pública.
O grafite artístico adquiriu status não faz muito tempo e veio depois de muito debate e confusão. No início era tratado como caso de polícia e já configurou conduta passível de reprovação penal. Atualmente, o parágrafo 2º do art. 65 da Lei nº 9.605/98 descriminaliza, em certa medida, o grafite, enquanto manifestação de arte:
"Não constitui crime a prática de grafite realizada com o objetivo de valorizar o patrimônio público ou privado mediante manifestação artística, desde que consentida pelo proprietário e, quando couber, pelo locatário ou arrendatário do bem privado e, no caso de bem público, com a autorização do órgão competente e a observância das posturas municipais e das normas editadas pelos órgãos governamentais responsáveis pela preservação e conservação do patrimônio histórico e artístico nacional. (Incluído pela Lei nº 12.408, de 2011)"
Penso que a lei penal não é a melhor maneira de tratar do assunto, nem o processo penal o lugar mais favorável para refletir sobre este tipo de conduta. Medidas administrativas deveriam ser suficientes. O debate dever ser cultural, ambiental, antropológico e sociológico, estimulado no âmbito da União, Estados e Municípios com a comunidade interessada.
A tendência de criminalizar condutas que a rigor não precisam deste tratamento torna a vida em sociedade mais complicada do que já é, e não resolve situações de conflito. A norma penal não substitui o indispensável diálogo.
O documentário Cidade Cinza, em cartaz em Porto Alegre, trata da questão na cidade de São Paulo. Mostra que houve uma evolução no entendimento do grafite por parte das autoridades, que em alguns casos já o aceitam e respeitam como forma de arte. Principalmente a partir do reconhecimento internacional de grafiteiros como Os Gêmeos (autores do grafite no alto do post), Nunca e Nina, entre outros.
Mas ainda há muita incompreensão sobre o tema. De acordo com o filme, equipes da prefeitura paulista saem às ruas para apagar aqueles traços que não consideram arte. São pessoas sem qualquer formação na matéria que decidem entre o que fica e o que vai ser eliminado. De resto, nem sempre é fácil discernir sobre o que é grafite e o que é pichação. Certamente não podem ser pessoas despreparadas, sem informação, a decidir o que apagar, se é que se deve apagar (salvo casos excepcionais). Em geral, o apagamento é um convite a nova pichação.
De qualquer forma, cada vez mais se autorizam espaços públicos e particulares para a prática do grafite nas cidades brasileiras, o que é sempre recomendável. Representa uma compreensão superior dessa manifestação, além de trazer colorido e beleza para o sofrido cenário urbano.
O grafite é perecível por natureza, constantemente exposto a fatores como sol, chuva, vento, poluição. A seu favor, o fato de ser arte democrática, a todos acessível nas nossas ruas, e que se presta à expressão de pessoas de diferentes idades, origens e condição social. Tem o mérito de quebrar um pouco o cinza, o duro concreto, o insuportável vazio, a rigidez das almas, a indizível solidão da cidade.
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Basquiat:
http://ofazedordeauroras.blogspot.com.br/2010/11/basquiat-anjo-caido-expoe-em-paris.html
A arte das ruas:
http://ofazedordeauroras.blogspot.com.br/2012/12/a-arte-das-ruas.html
grafite em P. Alegre. photo: j.finatto |
É claro que nem tudo é arte nesse universo que tem nas ruas seu ambiente natural. Há riscos e signos de tal forma caóticos e agressivos que aumentam, ao invés de diminuir, a sensação de soledade e isolamento. A pichação, via de regra, tem esse efeito e é muito pobre. Pichar é rabiscar qualquer coisa que colabora para a poluição visual, tal como ocorre com a maior parte dos anúncios publicitários colocados na via pública.
grafite em travessa de P. Alegre. photo: j.finatto |
O grafite artístico adquiriu status não faz muito tempo e veio depois de muito debate e confusão. No início era tratado como caso de polícia e já configurou conduta passível de reprovação penal. Atualmente, o parágrafo 2º do art. 65 da Lei nº 9.605/98 descriminaliza, em certa medida, o grafite, enquanto manifestação de arte:
"Não constitui crime a prática de grafite realizada com o objetivo de valorizar o patrimônio público ou privado mediante manifestação artística, desde que consentida pelo proprietário e, quando couber, pelo locatário ou arrendatário do bem privado e, no caso de bem público, com a autorização do órgão competente e a observância das posturas municipais e das normas editadas pelos órgãos governamentais responsáveis pela preservação e conservação do patrimônio histórico e artístico nacional. (Incluído pela Lei nº 12.408, de 2011)"
grafite dOs Gêmeos em São Paulo |
Penso que a lei penal não é a melhor maneira de tratar do assunto, nem o processo penal o lugar mais favorável para refletir sobre este tipo de conduta. Medidas administrativas deveriam ser suficientes. O debate dever ser cultural, ambiental, antropológico e sociológico, estimulado no âmbito da União, Estados e Municípios com a comunidade interessada.
Cartaz do filme Cidade Cinza |
A tendência de criminalizar condutas que a rigor não precisam deste tratamento torna a vida em sociedade mais complicada do que já é, e não resolve situações de conflito. A norma penal não substitui o indispensável diálogo.
O documentário Cidade Cinza, em cartaz em Porto Alegre, trata da questão na cidade de São Paulo. Mostra que houve uma evolução no entendimento do grafite por parte das autoridades, que em alguns casos já o aceitam e respeitam como forma de arte. Principalmente a partir do reconhecimento internacional de grafiteiros como Os Gêmeos (autores do grafite no alto do post), Nunca e Nina, entre outros.
Mas ainda há muita incompreensão sobre o tema. De acordo com o filme, equipes da prefeitura paulista saem às ruas para apagar aqueles traços que não consideram arte. São pessoas sem qualquer formação na matéria que decidem entre o que fica e o que vai ser eliminado. De resto, nem sempre é fácil discernir sobre o que é grafite e o que é pichação. Certamente não podem ser pessoas despreparadas, sem informação, a decidir o que apagar, se é que se deve apagar (salvo casos excepcionais). Em geral, o apagamento é um convite a nova pichação.
Imagem do filme Cidade Cinza |
De qualquer forma, cada vez mais se autorizam espaços públicos e particulares para a prática do grafite nas cidades brasileiras, o que é sempre recomendável. Representa uma compreensão superior dessa manifestação, além de trazer colorido e beleza para o sofrido cenário urbano.
O grafite é perecível por natureza, constantemente exposto a fatores como sol, chuva, vento, poluição. A seu favor, o fato de ser arte democrática, a todos acessível nas nossas ruas, e que se presta à expressão de pessoas de diferentes idades, origens e condição social. Tem o mérito de quebrar um pouco o cinza, o duro concreto, o insuportável vazio, a rigidez das almas, a indizível solidão da cidade.
grafite em rua de Porto Alegre. photo: j.finatto |
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Basquiat:
http://ofazedordeauroras.blogspot.com.br/2010/11/basquiat-anjo-caido-expoe-em-paris.html
A arte das ruas:
http://ofazedordeauroras.blogspot.com.br/2012/12/a-arte-das-ruas.html