Jorge Finatto
Livraria Miragem, São Francisco de Paula. foto: jfinatto |
ELE me empresta seu caderno de poemas às vezes. Eu não leio nada, porque tenho preguiça e não entendo muito de poesia. Mas sempre ouvi dizer que poetas são pessoas bacanas. Só que não têm dinheiro. E são sentimentais também.
Pra mim o meu amigo é poeta dos maiores do mundo. Não temos muitos aqui nos Campos de Cima do Esquecimento. Tudo que ele fala tem alguma coisa diferente e estranha a gente. E fico eu pensando nas coisas abismadas que diz. Como estas que anotei:
- Borboleta é uma coisa tão bonita que nunca devia de morrer.
- Joaninhas, como os cegos, são muito caladas mas percebem tudo ao redor.
- Nuvens parecem inofensivas mas quando ficam bravas despejam cachoeiras e raios pelas ventas.
- A mulher do vizinho pode ser muito angulosa mas é bom passar longe de sua geometria.
- O gato é vaidoso, autossuficiente e feroz (que o digam os ratos) como todo felino. Gosta de dormir no colo de seu dono como criança inocente.
- Fernando Pessoa não foi um poeta. Foi um dicionário de poetas. É um milagre da língua portuguesa e de todas as línguas.
- Os livros não têm resposta pra tudo, é verdade, nem podem nos salvar. Mas nos ajudam a viver. Abrem caminhos para o que não conhecemos, fora e dentro de nós. Nos completam e mexem com nossas certezas.
- Os escritores trabalham como um moinho que vai sentindo e meditando as coisas da vida, re-moendo os fatos e as circunstâncias, deles extraindo sentidos. O resultado são palavras que nos entregam com a suma dessa experiência e suas revelações.