O Cavaleiro da Bandana Escarlate
photo: j.finatto |
No sábado, fez um frio polar aqui em Gramado, com a temperatura caindo para algo próximo de zero grau. Uma chuva bem molhada e insistente não parou o dia inteiro. À noite, no Palácio dos Festivais, assisti ao filme argentino Puerta de Hierro, El Exilio de Perón, e a um curta-metragem (o primeiro da programação noturna) que achei decepcionante, não entendendo como passou na seleção.
Para quem, como eu, conhece pouco a história da Argentina, o filme sobre o exílio de Perón (1955-1973), direção de Dieguillo Fernández e Víctor Laplace, tem interesse. Perón foi um líder político marcante e com personalidade complexa. Puerta de Hierro é o nome da casa em que ele morou em Madri, onde recebia visitantes e políticos, e na qual foi guardado o cadáver embalsamado de Eva Perón, depois que restou devolvido por inimigos de Perón, após terem mantido o corpo desaparecido por quase 20 anos. A obra aborda também sua amizade com uma jovem mulher espanhola, à qual confia suas memórias gravadas em fitas.
Naquele período conhece e casa-se com Isabelita. Através dela, entra na história um estranho com supostos poderes sobrenaturais, López Rega, dito El Brujo. Perón retorna à Argentina, é eleito novamente presidente, morre e assume sua vice, Isabelita, que dá poderes a Rega, seguindo-se um período de grande violência promovido por ele, que deságua no golpe e na ditadura militar em 1976.
Naquele período conhece e casa-se com Isabelita. Através dela, entra na história um estranho com supostos poderes sobrenaturais, López Rega, dito El Brujo. Perón retorna à Argentina, é eleito novamente presidente, morre e assume sua vice, Isabelita, que dá poderes a Rega, seguindo-se um período de grande violência promovido por ele, que deságua no golpe e na ditadura militar em 1976.
Um bom filme, embora não desenvolva como poderia as contradições de Perón, inevitáveis, para o bem e para o mal, em figuras de sua dimensão.
Mas o melhor da noite ocorreu depois deste filme, durante a entrega do Troféu Cidade de Gramado ao ator Wagner Moura, pelo conjunto de seu trabalho.
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Poucos artistas no Brasil conseguem se expressar tão bem sobre a arte e a função do ator como ele. Moura estava chegando dos Estados Unidos, onde foi para o lançamento do filme Elysium (estréia de Wagner em Hollywood), que no primeiro dia de exibição faturou cerca de 11 milhões de dólares, conquistando a primeira posição em bilheteria nos EUA.
Wagner disse, entre outras coisas, que partilhava o troféu com os atores de sua geração. Com a mãe presente no Palácio dos Festivais, ele comentou que ela realizava o desejo de estar em Gramado e de ver o filho participando do festival.
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Depois ele referiu que no domingo, 11/8, Dia dos Pais, gostaria de almoçar com seu pai, abraçá-lo, mas não seria possível pois faleceu ainda durante a realização do filme Elysium.
O momento mais emocionante ocorreu quando ele dedicou o troféu aos filhos do ajudante de pedreiro Amarildo de Souza, desaparecido desde 14 de julho, na favela da Rocinha, no Rio, quando, após identificar-se aos policiais que o abordaram com a carteira de trabalho, foi conduzido a prestar depoimento na Unidade de Polícia Pacificadora local e não foi mais visto. Sumiu.
Wagner disse que não poderia almoçar com seu pai porque ele ficou doente e morreu. Mas que os filhos de Amarildo não poderiam passar com seu pai porque ele desapareceu e não há explicações para isso.
O ator falou como alguém que, além de procurar fazer o melhor na profissão que exerce (e o faz muito bem), não se omite diante da realidade brasileira e de fatos dramáticos como o desaparecimento de Amarildo. Sabe dizer as coisas com verdade e sentimento. Além de ator, um ser humano e um cidadão.
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