Juan Niebla
Sou cego e toco bandoneón na estação de trem abandonada de Passo dos Ausentes. Escrevo essas linhas pelas mãos do amigo Nefelindo Acquaviva. Tinha quinze anos, em 1950, quando fui nomeado músico oficial da estação, é um cargo público. Pouco tempo depois de começar o ofício, acabaram com os trens. Jamais deixei de tocar meu instrumento. Um dia pode ser que a ferrovia volte e eu vou estar aqui para receber os passageiros com minha música.
Esta é uma cidade perdida nos Campos de Cima do Esquecimento. Como os leitores do blog sabem, sequer no mapa do Rio Grande do Sul nós figuramos. Somos um mistério a 1800 metros de altitude. Passamos 300 dias do ano envoltos na neblina, no frio e sob os rigores da chuva. Nos 65 dias restantes, neva.
A música espalhou claridade dentro de mim e ao meu redor. Vivo nas brumas desde os seis anos de idade. As melodias têm sido a minha salvação. A presença e o afeto dos amigos são meu refúgio. Faço dois concertos por semana na estação, às terças e sextas, no fim da tarde. Acquaviva inaugurou um café na antiga gare, ficou um ambiente muito agradável.
A música espalhou claridade dentro de mim e ao meu redor. Vivo nas brumas desde os seis anos de idade. As melodias têm sido a minha salvação. A presença e o afeto dos amigos são meu refúgio. Faço dois concertos por semana na estação, às terças e sextas, no fim da tarde. Acquaviva inaugurou um café na antiga gare, ficou um ambiente muito agradável.
Recebi um inesquecível presente do Cavaleiro da Bandana Escarlate. Trata-se do cd Melodia Sentimental, de Gilson Peranzzetta e Mauro Senise, com participação de Silvia Braga. Esse disco tem sido meu encanto e meu consolo nesses inícios de primavera, quando os ventos sopram loucamente em todas as direções, deixando os habitantes da cidade um tanto deslembrados e aflitos.
A música de Peranzzetta - piano e arranjos - e Senise - sax alto, soprano e flauta - é inaugural. É como sentar na beira do córrego e ouvir a doce e estranha melodia da fundação do mundo. Como quando fico só na estação vazia, escutando o vento que vem pela grande curva da chegada dos trilhos.
A participação de Silvia Braga com sua harpa é um passeio pelo inefável, herança que algum anjo nos deixou quando passou pela Terra.
Música instrumental de fina origem, esse cd, editado pela Biscoito Fino, nos proporciona encontros sublimes com Villa-Lobos, Gabriel Fauré, Claude Debussy, Bach, Jobim e outros do mesmo nível. Não me canso de ouvir esse belo e emocionante trabalho.
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Foto: Peranzzetta, Silvia Braga e Senise (direita). Por Ana Luísa Marinho, divulgação.
Notícias de Passo dos Ausentes nos posts de 24/9/10, 9/9/10, 25/6/10.
A música de Peranzzetta - piano e arranjos - e Senise - sax alto, soprano e flauta - é inaugural. É como sentar na beira do córrego e ouvir a doce e estranha melodia da fundação do mundo. Como quando fico só na estação vazia, escutando o vento que vem pela grande curva da chegada dos trilhos.
A participação de Silvia Braga com sua harpa é um passeio pelo inefável, herança que algum anjo nos deixou quando passou pela Terra.
Música instrumental de fina origem, esse cd, editado pela Biscoito Fino, nos proporciona encontros sublimes com Villa-Lobos, Gabriel Fauré, Claude Debussy, Bach, Jobim e outros do mesmo nível. Não me canso de ouvir esse belo e emocionante trabalho.
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Foto: Peranzzetta, Silvia Braga e Senise (direita). Por Ana Luísa Marinho, divulgação.
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