Jorge Adelar Finatto
jfinatto@terra.com.br
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A lágrima escorreu, borrou a paisagem. O tempo das despedidas. Ele tinha seis anos e não estava preparado pra ir embora de Passo dos Ausentes.
A serra é azul e o menino é feliz.
Limpou o vidro da janela com a manga do casaco.
A serra é azul e o menino é feliz.
Limpou o vidro da janela com a manga do casaco.
O trem começou a caminhar, lenta, lentamente, sobre os trilhos de prata. A estação ficou pra trás, os plátanos, a torre da igreja, os amigos, a casa, a vidinha.
O avô acenou na gare diante do vagão. Mais triste que a noite sem fim que se aproximava.
O rumor do vento nas folhas do pinheiro não dá pra esquecer.
A cidadezinha desapareceu.
O avô acenou na gare diante do vagão. Mais triste que a noite sem fim que se aproximava.
O rumor do vento nas folhas do pinheiro não dá pra esquecer.
A cidadezinha desapareceu.
Ele tirou os óculos (já usava as lentes de fundo de garrafa) e secou os olhos. Mas os olhos não secaram. Quem seca um rio?
O sol caía atrás dos flocos rosados de nuvens do outro lado das montanhas. Uma espécie de calabouço sem nenhuma fresta de claridade se inaugurava dentro de seu peito.
O sol caía atrás dos flocos rosados de nuvens do outro lado das montanhas. Uma espécie de calabouço sem nenhuma fresta de claridade se inaugurava dentro de seu peito.
O menino desapareceu naquele fim de tarde dentro do trem noturno. Os olhos não secaram. Quem seca um rio? Chorou em silêncio até adormecer. Sumiu na paisagem rumo ao profundo, frio e traiçoeiro caleidoscópio da cidade grande.
A vida nunca mais seria a mesma.
No entanto, a vida estava apenas começando. Cinqüenta anos depois, ele recorda aquela tarde-noite irreparável nos Campos de Cima do Esquecimento. Mas nesse momento está a salvo ao lado dos amigos, no Café dos Ausentes, na estação de trem abandonada.
Estão todos ouvindo o bandoneón de Juan Niebla na tarde de outono com suas inumeráveis cores.
A velha casa de madeira está outra vez habitada por ele, suas recordações e a família que construiu. Os fantasmas conversam, jogam xadrez e bebem café preto sem açúcar no sótão.
Ali na vetusta estação de trem, com os amigos no café, ele descobre que a memória é sua Arca de Noé. Nela o mundo do menino está a salvo do desaparecimento.
As lentes de fundo de garrafa só têm olhos para a Estação Esperança, na transparência da tarde de outono.
A vida nunca mais seria a mesma.
No entanto, a vida estava apenas começando. Cinqüenta anos depois, ele recorda aquela tarde-noite irreparável nos Campos de Cima do Esquecimento. Mas nesse momento está a salvo ao lado dos amigos, no Café dos Ausentes, na estação de trem abandonada.
Estão todos ouvindo o bandoneón de Juan Niebla na tarde de outono com suas inumeráveis cores.
A velha casa de madeira está outra vez habitada por ele, suas recordações e a família que construiu. Os fantasmas conversam, jogam xadrez e bebem café preto sem açúcar no sótão.
Ali na vetusta estação de trem, com os amigos no café, ele descobre que a memória é sua Arca de Noé. Nela o mundo do menino está a salvo do desaparecimento.
As lentes de fundo de garrafa só têm olhos para a Estação Esperança, na transparência da tarde de outono.
Que bom poder voltar. Ser acolhido pelo mesmo aconchego, depois que o tempo passou. A gente sabe que é só o tempo que passa, pois que quando não tem ninguém olhando a juventude e a meninice emergem faceiras. Nos abraçamos. Congratulamos. Consertamos, como ninguém, alguma pendência presa ao coração. Talvez não possa secar o rio, mas encontramos plena compreensão no encontro desses momentos “distantes”. Abraço.
ResponderExcluirMarina. Gostei muito do comentário que, como sempre, acrescenta coisas importantes, ilumina. Sou agradecido por isso. E o menino também. Um abraço.
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