sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Com Lorca pela Andaluzia

Jorge Adelar Finatto

De Granada para Madri. Leio no El País (o Rio Grande do Sul é que merecia um jornal assim) que certos intelectuais espanhóis costumam dizer que, se Federico García Lorca nao tivesse sido assassinado, provavelmente teria acabado como letrista de Rocío Jurado (1946-2006), uma cantora popular aqui da Espanha. 

O autor do artigo, David Trueba, afirma que talvez fosse mesmo assim, ao argumento de que, neste país, se nao se assassinam ou levam ao exílio os grandes talentos,  eles sao condenados a uma sobrevivência precária. Todavia, ele nao considera uma derrota ser letrista de Jurado, que trabalhava a música sentimental  e cuja arte ajuda a entender o modo de ser e sentir do espanhol.

De minha parte, digo aos meus dois leitores (eram três, mas acho que um se mudou de mala e cuia para outros blogues, no mundo cruel  e sem coraçao da rede infinita de pescar leitores), pois digo-lhes que a ponderaçao acima vale para a Espanha, mas vale também para o mundo inteiro.

Os poetas e artistas sao seres incômodos, improdutivos, que pesam na vida da tribo, como as cigarras, ao contrário das sempre previsíveis e obreiras formigas.

No Brasil, onde nao se assassinam poetas, a indiferença do meio se encarrega de asfixiá-los. O Estado, a quem cumpre o papel de estimular a criaçao cultural em geral, atua de forma tímida e as oportunidades oferecidas sao poucas.

A arte, entre nós, será sempre ou quase sempre um milagre. O esquema industrial de produçao atua com valoraçao do lucro e, para tanto, despreza a criaçao enquanto alta manifestaçao do espírito. Nao há interesse nisso.

Os criadores sao levados muitas vezes a uma condiçao de párias sociais, às vezes em humilhante situaçao de dependência. Isso tudo é ruim, porque a arte é um poderoso formador de consciências e uma fonte de bem-estar emocional.

Estou convencido de que toda vez que alguém "perde tempo" tentando escrever um texto, pintar um quadro, tocar um instrumento, cantar uma música, dançar, representar, etc., o mundo melhora um pouco.


6 comentários:

  1. Também estou convecido.
    Parabéns pelo belo texto que Lorca, Nobre Poeta, sem dúvida nenhuma merece.
    A homenagem do cronista fica gravada para ser relida em salas de aula, saraus, e em jornais e revista e com o fim de incentivar a escrita.

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  2. Obrigado pela presença e sensível comentário.

    JF

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  3. Eu poderia substituir o leitor fugido?
    Se não acreditasse na Grande Lei de Causa e Efeito diria que a natureza, aparentemente, se deleita em fazer sofrer os poetas e artistas porquanto, geralmente, nasceram ou vivem na penúria, o que os leva à "humilhante situação de dependência" como registra brilhantemente o cronista.

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  4. Caríssimo Desembargador Atapoa Feliz.

    A sua presença aqui, nessa casa humilde,porém sincera, vale por dez mil leitores, tal a qualificaçao e sensibilidade do leitor. Aliás, também escritor e compositor de raro talento.

    Muito obrigado, é uma alegria e uma honra.

    Jorge

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  5. Olá Adelar!

    Preciso me manifestar para saberes que podes contar comigo. Talvez fossem 4 leitores, logo (3-1)+eu = 3 leitores!! Não tá morto quem peleia, chê!

    Um abraço transcontinental para ti para sua esposa...

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