Jorge Adelar Finatto
photo: j.finatto |
com secas palavras
para iluminar a treva
que nos reúne
em torno do lume
do poema
me tens aqui solidário
beirando a primavera
beirando os trintanos
com raros bens materiais
e nenhum privilégio
de credo ou classe
às vezes louco
às vezes patético
com poucos seres humanos
pra repartir
alguma coisa
me tens aqui poeta
num país injusto e sofrido
caminhando à beira de um rio
a sujeira flutua nas águas
os pobres equilibram-se
em perigosas palafitas
me tens aqui poeta lírico
cada dia mais lúcido
como a primavera
eu invado de repente
a sala adormecida
o coração desabitado
não tenho uma saída
para os dramas
que andam por aí
sequer possuo soluções
plausíveis
para os atrapalhos
cotidianos
o que posso oferecer
e ora ofereço
é essa canção discreta
para dissipar a sombra
um braçada de flores
no inverno
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Do livro O Fazedor de Auroras, Instituto Estadual do Livro, Porto Alegre, 1990.
Esse poema é emocionante. E permanece atual.
ResponderExcluirMais de vinte anos se passaram e o país continua neste abismo entre ricos e pobres e com a corrupção solta.
Quem dera um poema pudesse mudar o mundo.
Contudo continuamos neste árduo ofício de sonhar.
Abraço.
Ricardo Mainieri
É, meu amigo,a experiência de ser brasileiro é duríssima, viver num país que maltrata as pessoas de bem, onde a corrupção destrói a vida de gerações. As pessoas fazem bem em ir pra rua.
ResponderExcluirUm abraço.
JF
Não sei se é apenas um poema triste, ou mesmo sem esperança. Eu lembro as palafitas na beira do rio. Mas “uma braçada de flores no inverno”. Uma braçada de flores, sob o sol, numa manhã de inverno? Lembra sim aqueles dias, como canta Chico Buarque: “No tempo da maldade a gente ainda nem tinha nascido”.
ResponderExcluirUma braçada de flores é sempre um convite à vida e à iluminação do presente, não é mesmo? Um abraço. JF
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