sábado, 25 de fevereiro de 2023

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2023

O caso da enciclopédia

 Jorge Finatto

photo: jfinatto


COMO A CASA da serra está cheia de livros, um dia desses fui aconselhado pela família a me desfazer ("desapegar") daqueles que não interessam mais (livros há muito lidos, esquecidos, que não pertencem ao grupo dos "essenciais").
 
Providência, aliás, que tomei há um ano, separando duzentos e alguns livros para doar, a décima parte do acervo. Só que ainda não tive coragem de concretizar o gesto, porque a cada olhar retiro os que, pensando bem, merecem ficar. E, assim, cada vez que olho a pilha, retiro alguns, diminuindo o desapego. 
 
Sabendo da minha dificuldade em "desapegar", alguém da família teve a gentileza de retirar de uma estante, e acomodar sobre a escrivaninha, a velha Enciclopédia Barsa. Quando, ao regressar de viagem, entrei no escritório, dei com aquele quadro (para mim) "dantesco".
 
Pra quem não sabe, as enciclopédias eram o Google de antigamente. A elas se recorria para pesquisar e realizar estudos nas mais diversas áreas do saber e da cultura. Eu comprei a Barsa com sacrifício, pagando em prestações. Além dos volumes, com bonita encadernação em vermelho, havia os "livros do ano" que traziam as atualizações.

Aquela enciclopédia, há quase quarenta anos, me deu esperança de dias melhores para meus filhos. Acreditava, como ainda acredito, no estudo e no conhecimento como ferramentas para construir caminhos.

Como poderia me desfazer de algo com tanto significado? Resumo do caso: pedi que recolocassem a Barsa no lugar. Não estou em condições de fazer o desapego...

Numa espécie de codicilo verbal, disse que, quando fizer a passagem, podem fazer da Barsa o que quiserem. Mas, por enquanto, ela fica, assim como os demais livros que me ajudaram e ajudam a viver. Porém deixo claro: se vier um pedido de doação para escola ou outra instituição, poderei doar com prazer.
 
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Texto revisado, publicado antes em 12 de julho 2018.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2023

Flor da coragem e da esperança

 Jorge Finatto

photos: jfinatto


Enfim o velho cáctus exibiu a sua bela flor, que nasce ao anoitecer, avança pela madrugada e morre aos primeiros raios do Sol.
A flor do cáctus, ou flor da noite, dama da noite ou flor de mandacaru, para além de sua formosura e seu perfume, simboliza a coragem, a força e a esperança do povo nordestino, e por extensão do povo brasileiro, na sua luta por uma vida digna, contra a violência social manifestada na pobreza, na fome, na injustiça, na desumanização e no desespero.
Ver a flor da noite traz paz e resiliência ao coração e nos fortalece para a luta de cada dia.
(A ideia de fugir de tudo e ir viver no mato não está mais em questão, até porque estão botando fogo na floresta e matando quem vive lá. Faz tempo.)