sábado, 9 de julho de 2016

Arte e transformação

Jorge Finatto

fragmento de Tentações de Santo Antão, de Hieronymus Bosch (1450-1516).
imagem: Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa¹

As obras de arte são de uma infinita solidão; nada as pode alcançar tão pouco quanto a crítica. Só o amor as pode compreender e manter e mostrar-se justo com elas.²
Rainer Maria Rilke

A arte é uma maneira de suportar e reinventar a nossa passagem pela vida. Através dela temos a oportunidade de ver a recriação do mundo pelos olhos do artista. Chamo de arte todo fazer humano dotado de esforço criativo, senso estético e originalidade.

Um cesto de vime, um tecido rendado, um prato de comida, uma pandorga colorida, um pão caseiro, dependendo do esmero e capricho de seu fazedor, podem ser arte. A arte não é só aquilo que encontramos em museus, galerias, livros e monumentos. Está na vida, está no dia a dia.

Do mais delirante quadro de Hieronymus Bosch ao mais tocante poema de Rilke, o que vemos é o espírito humano se desvelando, mostrando seus interiores, anseios, medos, profundidades, alturas, indo em busca de transcendência e sentido.
 
Estou entre aqueles que acreditam que as grandes obras nascem do sofrimento, e da necessidade de superá-lo. Do confronto da consciência com a finitude. O contraste entre o estar vivo e o estar morto, entre o que é e o que deixa de ser. E o que virá depois de tudo.
 
Aí estão a música, a literatura, o teatro, o cinema, a pintura, a internet, os blogs e todas as manifestações do pensamento e da sensibilidade nos convidando a imaginar, pensar, sentir, mudar.

A arte é uma visão transformadora da vida e do real. A vida é escassa ante nossa sede de plenitude. É necessário mais. Mais silêncio, mais tempo, mais contemplação, mais estar em si, menos performance.

Viver é tudo que temos, e dura um instante. É preciso encontrar um pouco de felicidade naquilo que somos e fazemos. E encontrar outras pessoas nesse caminho.
 
E que a obsessão de perfeição não nos sufoque na hora de criar qualquer coisa, nem nos tolha o olhar na hora de admirar a criação dos outros.
____________ 

¹Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa, Portugal
http://www.museudearteantiga.pt/colecoes/pintura-europeia/tentacoes-de-santo-antao
²Cartas a um jovem poeta. Rainer Maria Rilke. p. 32. Tradução de Paulo Rónai. Editora Globo, 9ª edição, Porto Alegre, 1978.

2 comentários:

  1. Felizes de nós, Adelar, que temos o antídoto da Arte para fazer frente aos venenos mundanos.
    Pois ela nos transporta, momentaneamente, para um espaço/tempo diferente, onde a possibilidade de vivenciar sonhos é franqueada.
    Então, vamos semeá-la nos blogs, nos livros, em todos os canais disponíveis.

    Abraço.

    Ricardo Mainieri

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    1. Mesmo sem asas, nós voamos, não é mesmo, Ricardo? Um grande abraço.

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