quarta-feira, 11 de janeiro de 2017
segunda-feira, 9 de janeiro de 2017
Nagai Kafu e as histórias da outra margem
Jorge Finatto
![]() |
Nagai Kafu entre mulheres. Kafu Nagai with strippers @ Asakusa Rokkuza, 1952 Fonte: the setting sun* |
Oyuki era uma musa que ressuscitara em meu coração tão cansado imagens de um tempo distante e saudoso. O manuscrito há tanto tempo abandonado sobre a escrivaninha, não fosse por ela ter aberto seu coração para mim - ou, ao menos, não fosse por eu ter achado que esse coração se me abrira -, já estaria há muito tempo no lixo.¹
Nagai Kafu
MAIS POR FALTA de livros traduzidos do que por outro motivo, no Brasil temos pouco conhecimento da literatura oriental.
Mas isso começa a mudar. Na medida em que editoras brasileiras investem na tradução de autores daquele lado do mundo, vamos descobrindo pérolas até aqui escondidas.
Ultimamente tenho folheado livros de pintura japonesa, de autores como Hokusai e Hiroshige, e lido textos de escritores japoneses. Não é pouca nem recente a admiração que sinto pela cultura do Japão.
Entre os autores daquele país mais conhecidos por aqui, temos Bashô (poesia) e Yasunari Kawabata (prosa, Prêmio Nobel de 1968 ). Mas existem outros de grande qualidade.
Acabo de ler Histórias da outra margem, do escritor Nagai Kafu (1879 - 1959), esse da foto com as moças. Trata-se de um livro de 123 páginas, que transita entre a ficção, o diário, a poesia, a crônica e as memórias do autor.
Eu não tinha mais aonde ir. As pessoas que eu queria rever estavam todas mortas.²
O enredo se passa na Tóquio da década de 1930. Tadasu Oe é um escritor de quase 60 anos que vive uma história de amor com uma "mulher da vida", na zona de prostituição do bairro Tamanoi, a leste do rio Sumida.
Oyuki é jovem, pobre, bela, alegre, foi gueixa antes de prostituir-se. Ao conhecer Tadasu Oe, pensa abandonar a zona e casar-se com ele. Oe, por seu turno, encontra na jovem inteligente e cheia de vida um cálido cais onde ancora sua solidão nos fins de tarde.
Ao mesmo tempo em que narra o seu romance, Oe conta detalhes do livro que está escrevendo, no qual um professor aposentado abandona a família. O desenvolvimento é surpreendente.
A história é, em vários aspectos, a história do próprio Nagai Kafu. E de muitos homens e mulheres por este mundo afora.
Histórias da outra margem é um livro com uma curiosa e envolvente construção. Nagai Kafu revela-se um excelente escritor, com uma narrativa que combina técnica esmerada e sensibilidade poética, sem cair em literatices.
Como se isso não bastasse, a obra tem ainda belas ilustrações de Shohachi Kimura (1893 - 1958). Um livro, enfim, pra se ter nas mãos.
Eu não tinha mais aonde ir. As pessoas que eu queria rever estavam todas mortas.²
![]() |
Nagai Kafu, 1954. photo de Ihei Kimura** |
O enredo se passa na Tóquio da década de 1930. Tadasu Oe é um escritor de quase 60 anos que vive uma história de amor com uma "mulher da vida", na zona de prostituição do bairro Tamanoi, a leste do rio Sumida.
Oyuki é jovem, pobre, bela, alegre, foi gueixa antes de prostituir-se. Ao conhecer Tadasu Oe, pensa abandonar a zona e casar-se com ele. Oe, por seu turno, encontra na jovem inteligente e cheia de vida um cálido cais onde ancora sua solidão nos fins de tarde.
Ao mesmo tempo em que narra o seu romance, Oe conta detalhes do livro que está escrevendo, no qual um professor aposentado abandona a família. O desenvolvimento é surpreendente.
A história é, em vários aspectos, a história do próprio Nagai Kafu. E de muitos homens e mulheres por este mundo afora.
Histórias da outra margem é um livro com uma curiosa e envolvente construção. Nagai Kafu revela-se um excelente escritor, com uma narrativa que combina técnica esmerada e sensibilidade poética, sem cair em literatices.
Como se isso não bastasse, a obra tem ainda belas ilustrações de Shohachi Kimura (1893 - 1958). Um livro, enfim, pra se ter nas mãos.
___________________
¹,²Histórias da outra margem, pp. 109, 117. Nagai Kafu, Editora Estação Liberdade, São Paulo, 2013. Tradução do japonês e notas por Andrei Cunha.
Texto publicado originalmente no blog em 7 de abril, 2013.
Marcadores:
Histórias da outra margem,
Kafu,
Nagai
sábado, 7 de janeiro de 2017
terça-feira, 3 de janeiro de 2017
Ponte dei Sospiri
segunda-feira, 2 de janeiro de 2017
Colher hibiscos
Jorge Finatto
photo: jfinatto 1º jan. 2017 |
NA TARDE do primeiro dia do ano, saí para colher hibiscos. Colher com os olhos, com a lente esperta da Coruja, ex-máquina fotográfica, quase um ser humano. Nada de arrancar flores para pôr no vaso. O olhar sensível é capaz de entendê-las em seu habitat, sem qualquer ideia de posse.
Porque os hibiscos habitam as ruas e praças de Porto Alegre. A sua linda corola é um presente para o coração. Um lenitivo (talvez só o pessoal nascido em meados do século passado saiba ainda o que é lenitivo. Muitos já esqueceram seu significado tamanha a dureza destes tempos). Consolo nesta cidade triste e desmantelada.
photo: jfinatto, 1º jan.2017 |
O porto-alegrense virou uma pessoa mal-educada, grosseira e agressiva. É o que se vê no trânsito, nas lojas, dentro dos ônibus, em toda parte. Se você não faz parte deste grupo, perdoe. Mas a média da população está assim, infelizmente. Por isso eu, quando estou por aqui, busco as praças onde ainda é possível encontrar um pouco da humanidade perdida deste outrora acolhedor burgo.
photo: jfinatto, 1º jan.2017 |
Mas eu quero falar dos hibiscos. Durante caminhada para equilibrar o esqueleto, no entardecer de 31 de dezembro, na Praça da Encol, percebi arbustos de hibiscos, alguns vermelhos, outros cor-de-rosa. Um brilho só. Voltei no dia primeiro para fotografá-los e guardá-los assim do esquecimento. Estão no auge do encanto. Façamos por merecer.
Marcadores:
hibiscos,
Porto Alegre,
praças,
ruas
sábado, 31 de dezembro de 2016
A luz do novo tempo
Jorge Finatto
![]() |
photo: Clara Finatto, Ipanema, Rio de Janeiro |
AS IMAGENS de Clara Finatto nos remetem a um momento de rara beleza e emoção neste último dia do ano. As fotos são da praia de Ipanema no Rio de Janeiro. As pessoas estão reunidas olhando o pôr do Sol. Ao fundo, à direita, o Morro Dois Irmãos.
Clara conta que os admiradores aplaudem quando o Sol se põe. O mesmo fazem quando ele nasce lá longe sobre o mar, na linha do horizonte.
O tempo leva tudo pela frente. Passa como o vento e não pede passagem. Atropela, arrasta a pobre criatura. Um ano não significa nada na vida de uma estrela, de uma montanha como Dois Irmãos. Mas na vida de um efêmero ser humano faz muita diferença. O que isso quer dizer? Que cada dia é um tesouro que não deve ser desperdiçado.
Olhando as imagens que a Clarinha colheu, percebo que a vida e o mundo são belos demais. Devemos agradecer sempre a oportunidade que nos foi dada.
Desejo a todos bons motivos para aplaudir o dia que se vai e o dia que nasce. Que cada um colha o que semeou em 2017. E que consigamos não levar tudo tão a sério. O riso é uma arma poderosa contra o desespero e o niilismo. Que possamos rir mais, apesar de tudo.
Que haja mais justiça na distribuição do pão, da alegria, do amor, do bem-estar, dos bens materiais. Que todos tenham tempo para viver. E possam refazer a semeadura, caso tenham errado a mão.
Que Deus nos dê saúde para enfrentar os dias difíceis, para aproveitar os de júbilo, para repensar nossas prioridades. Possamos enxergar, ouvir e tentar entender as razões do outro (quando mais não seja, porque somos o outro do outro).
Luz pra todos.
Clara conta que os admiradores aplaudem quando o Sol se põe. O mesmo fazem quando ele nasce lá longe sobre o mar, na linha do horizonte.
![]() |
photo: Clara Finatto. Morro Dois Irmãos, Rio de Janeiro |
O tempo leva tudo pela frente. Passa como o vento e não pede passagem. Atropela, arrasta a pobre criatura. Um ano não significa nada na vida de uma estrela, de uma montanha como Dois Irmãos. Mas na vida de um efêmero ser humano faz muita diferença. O que isso quer dizer? Que cada dia é um tesouro que não deve ser desperdiçado.
Olhando as imagens que a Clarinha colheu, percebo que a vida e o mundo são belos demais. Devemos agradecer sempre a oportunidade que nos foi dada.
Desejo a todos bons motivos para aplaudir o dia que se vai e o dia que nasce. Que cada um colha o que semeou em 2017. E que consigamos não levar tudo tão a sério. O riso é uma arma poderosa contra o desespero e o niilismo. Que possamos rir mais, apesar de tudo.
![]() |
photo: Clara Finatto, Ipanema, RJ |
Que haja mais justiça na distribuição do pão, da alegria, do amor, do bem-estar, dos bens materiais. Que todos tenham tempo para viver. E possam refazer a semeadura, caso tenham errado a mão.
Que Deus nos dê saúde para enfrentar os dias difíceis, para aproveitar os de júbilo, para repensar nossas prioridades. Possamos enxergar, ouvir e tentar entender as razões do outro (quando mais não seja, porque somos o outro do outro).
Luz pra todos.
________
*Viaje alrededor del tiempo:
http://ofazedordeauroras.blogspot.com.br/2014/12/viaje-alrededor-del-tiempo.html
*Viaje alrededor del tiempo:
http://ofazedordeauroras.blogspot.com.br/2014/12/viaje-alrededor-del-tiempo.html
Marcadores:
futuro,
ilusão,
tempo,
vida agora
sexta-feira, 30 de dezembro de 2016
Veneza no Café do Porto
Jorge Finatto
![]() |
photo: jfinatto |
Exposição
fotográfica mostra a face pouco conhecida de Veneza, no Café do
Porto, a partir de 03 de janeiro
VENEZA é uma das cidades mais visitadas e fotografadas do
planeta. Uma cidade de espelhos, segredos e mistérios. Perambular sem
pressa e sem itinerário por seus tortuosos caminhos (as fondamenta, à
margem dos canais) é essencial para descobrir seu corpo cheio de cálidas surpresas.
A pé, numa gôndola
ou num vaporetto
(embarcação típica de Veneza, usada como meio de transporte pelos
canais, com motor a diesel, e não mais a vapor como antigamente), o passeio é sempre revelador.
Não
nos cansamos de admirar a arquitetura, as pontes, as paredes de tijolos à
vista, as janelas com flores, os telhados, as roupas secando ao vento, as
praças com pessoas de todos os lugares (talvez você dê sorte e encontre um
veneziano em meio à multidão...), os longos e estreitos corredores que se
perdem na bruma dos séculos.
Veneza se deixa visitar, olhar, fotografar. Mas não se iluda o visitante: poucos terão acesso a seus aposentos interiores, à sua alma. Estes lugares não são para olhos estrangeiros.
![]() |
photo: jfinatto |
Veneza se deixa visitar, olhar, fotografar. Mas não se iluda o visitante: poucos terão acesso a seus aposentos interiores, à sua alma. Estes lugares não são para olhos estrangeiros.
Recatada, a bela senhora nunca se deixa desvelar
por completo. É preciso saber tocá-la com a ponta dos dedos, delicadamente.
Como quem toca uma estrela muito frágil fadada a desaparecer (o aumento do
nível das águas e os processos geológicos locais, embora lentos, estão levando ao afundamento da cidade).
Nesta exposição, reuni imagens que buscam mostrar o lado pouco conhecido de Veneza, longe dos clichês e do corre-corre dos turistas. Gostaria de compartilhar com você essas impressões sobre a querida República Sereníssima. São 17 painéis que estarão à mostra no acolhedor Café do Porto, a partir do dia 03 de janeiro de 2017.
Nesta exposição, reuni imagens que buscam mostrar o lado pouco conhecido de Veneza, longe dos clichês e do corre-corre dos turistas. Gostaria de compartilhar com você essas impressões sobre a querida República Sereníssima. São 17 painéis que estarão à mostra no acolhedor Café do Porto, a partir do dia 03 de janeiro de 2017.
![]() |
photo: Jorge finatto |
Mostra fotográfica OLHAR SOBRE VENEZA
Autor: Jorge Finatto
Café do Porto, de 03 a 16 de janeiro, 2017
Rua Padre Chagas, 293, bairro Moinhos de Vento
Porto Alegre
Marcadores:
Café do Porto,
exposição Olhar sobre Veneza
Assinar:
Postagens (Atom)