sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

Arranjo floral

 Jorge Finatto

photo: jfinatto, dez. 2021



Arranjo floral pra 2022.
É preciso cultivar pra colher.
Quem tem um jardim tem um mundo.
No caminho, pelejando sempre.
Feliz 2022!

terça-feira, 28 de dezembro de 2021

A fé, sem obras, está morta

 Jorge Finatto

photo: jfinatto

"De que adianta, meus irmãos, alguém dizer que tem fé, se não tem obras? Será que essa fé pode salvá-lo? Se um irmão ou uma irmã não tem o que vestir nem alimento suficiente para o dia, e um de vocês lhe diz: 'Vá em paz; mantenha-se aquecido e bem alimentado', mas não lhe dá o que ele necessita para o corpo, de que adianta isso? Assim também a fé, por si só, sem obras, está morta."

Tiago 2:14-17

terça-feira, 21 de dezembro de 2021

O homem e o rio

 Jorge Finatto


Passeio sobre prancha, no Guaíba, diante da Fundação Iberê Camargo.
photo: j.finatto
 
Devia ser eu em cima daquela prancha (stand up), deslizando sobre as águas do Guaíba. Na verdade, acho que era eu. Sentia o cheiro adocicado do rio enquanto glissava de pé sobre a superfície azulada, cortando pequenas ondas em direção ao sul.

Se não era eu, como explicar o toque do vento batendo no meu rosto, aquela sensação de liberdade?

Tinha de ser eu. Pelo menos era o que imaginava, sentado no café da Fundação Iberê Camargo, diante do Guaíba.

Um sentimento de felicidade por estar ali, mergulhado naquela aquarela. A vista da cidade desde o ponto ondulante era de não esquecer.


Porto Alegre vista de uma janela da FIC
photo: j.finatto

Devia ser eu naquela prancha, orientando o remo, olhando a face fugidia da cidade.

A tarde de sol cálido convidava pra ser feliz.



Beira rio. photo: j.finatto
 
O homem da prancha desafia a lógica da cidade, que é ficar de costas para o rio. O homem da prancha vem nos lembrar que existe um rio e que é bom manter contato físico com as águas. O homem da prancha desperta em nós, que estamos à margem, a vontade de deixar o rio fazer parte de nossas vidas.

Diante do Guaíba, perto do entardecer, esse momento é um convite ao pensamento criativo, ao olhar interior, à integração com a cidade e seu ambiente, à construção de sentidos.

Viver é agora.



Árvore diante da FIC, na beira do Guaíba.
photo: j.finatto

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Iberê Camargo:
http://ofazedordeauroras.blogspot.com.br/2012/03/ibere-camargo-e-escrita-da-

domingo, 12 de dezembro de 2021

O trem chegou

 Jorge Finatto

photos: jfinatto. Canela



O trem chegou.

Acabou de chegar.

Trouxe malas e baús de saudades.

Chegou o trem, veio de muito longe.

Trouxe gente que não podia mais esperar.




quarta-feira, 8 de dezembro de 2021

Um dia após o outro

 Jorge Finatto

Velha Bruxa, Canela.foto: jfinatto

Nada como um café após o outro
um chocolate após o outro
um livro após o outro
um abraço após o outro

a gente nunca
se cansa de viver
de se reinventar
de amar
viver é sempre o eterno
despertar
para longe da escuridão
e do medo
viver por tudo
e apesar de tudo
puco importam
as cicatrizes
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Café da Velha Bruxa, Canela.

terça-feira, 30 de novembro de 2021

Flamboyant visto da janela

Jorge Finatto 

photo: jfinatto. nov. 2021


Tem dias que nada me inspira quando estou em Porto Alegre. Não vou ao café nem à praça. Fico no escritório trabalhando, como hoje, ouvindo o Concierto de Aranjuez e outras dádivas de Joaquín Rodrigo.

Às vezes vou até a janela onde vislumbro a imagem consoladora desse flamboyant na calçada. Ele me mostra que há vida e há esperança na cidade grande. Dádiva na treva urbana.

Muita gente passa por ali e nem percebe.

Então eu acho que sou um cara de sorte por sentir a presença e a inspiração que vem do querido flamboyant.

terça-feira, 23 de novembro de 2021

Deus, o mistério que nos habita

 Jorge Finatto

photo: jfinatto


Ninguém jamais viu a Deus. Se continuamos a amar uns aos outros, Deus permanece em nós e o seu amor é aperfeiçoado em nós. 1 João 4:12

Penso em Deus várias vezes ao dia. Não tenho ideia de sua aparência, de seu tamanho, de seu endereço. Uma vez que teceu o infinito, sei que ele é infinitamente maior que todo o universo. Às vezes me pergunto se ele realmente existe ou é apenas um sonho que sonhamos na nossa imensurável solidão. Pergunto, também, se ele me enxerga: um grão de poeira na Via Láctea: ser insignificante, habitante de uma placenta cheia de estrelas e inumeráveis corpos celestes. Haverá outros seres como nós?

Gente sábia pensou e pensa sobre Deus em todas as épocas. Todo ser humano pensa em Deus. Porque é impossível não pensá-lo. E como não fazê-lo diante de tanto encantamento, tanto sofrimento, tantas interrogações, tanta beleza? Certa vez indagaram ao filósofo, psicanalista, erudito e escritor Carl Gustav Jung sobre sua ideia a respeito de Deus. Ele respondeu: eu sei.

O que Jung quis dizer? Creio que pretendeu afirmar que sua experiência com o ser divino era semelhante à de todos nós, pessoas comuns. Nossa experiência acerca de Deus vem de longe, atravessando gerações e gerações, de pessoa em pessoa, de alma em alma, de aldeia em aldeia. Deus é um ser incontornável, que floresce em todas as mentes e corações. É uma realidade que se impõe, acreditemos nele ou não. É inevitável como respirar. Deus está em nossas células. Nós "sabemos" Deus porque não existe possibilidade de ignorá-lo. Está impregnado na nossa essência, em nosso antes e nosso depois.

Vivemos cercados de Deus por todos os lados.

A ninguém é dado não ter conhecimento dele, deixar pra lá. Crendo ou não, a presença dele se impõe. Entre crentes e ateus. Não conhecemos sua face, ignoramos sua morada, nunca ouvimos sua voz, desconhecemos sua origem e suas canções preferidas. Mas de alguma forma "sabemos" Deus.

A condição humana é inescapável. Nela está ínsita a figura luminosa de Deus. Não temos como nos livrar dele. Não temos para onde correr. Deus é inexplicável e é, sobretudo, inevitável. É impossível resumir Deus numa frase. Nenhum conceito o aprisiona. Nenhuma definição o limita.

Quem recolhe a tempestade no leito de um lenço?

Filósofos, livres-pensadores, cientistas e escritores têm ocupado parte de seus talentos e esforços esquadrinhando a existência divina. Alguns encaminham-se pela negação, mostrando-se revoltados com o que consideram barbáries em certos relatos bíblicos. Outros, por infensos à Igreja Católica, desconsideram  Deus (como se fosse propriedade e criação dela). 

De tanto ocuparem-se de um Deus cuja existência tentam negar - sem consegui-lo – deixam uma fresta aberta para a possibilidade oposta. É razoável concluir que mentes privilegiadas não perderiam anos de vida com algo que simplesmente inexiste.

A própria preocupação em torno do tema demonstra que "algo" é, "algo" há que escapa da compreensão e não se deixa dominar pelo conhecimento racional humano.

Deus é um mistério e um sentimento que nos habita desde a remota escuridão de onde viemos. Resta claro que é preciso mais do que a razão para nos aproximarmos dele. A fé faz parte desse caminho. Talvez um dia acenda-se em nosso coração a luz que nos revelará o que tanto ansiamos saber.