As manhãs fogem do escuro.
A solidão é um negro capuz que se veste nos retirados da dor.
Tive medo de ver os escombros. Os difíceis haveres do abandono. Havia uma mulher chorando. Quem? Não divulguei.
O coração humano gira em estranhos círculos. O traçado torto da vida. Quem puder se segure, senão cai no perau. Eu, quando escuto gente chorando, sinto breu andando à volta.
Coisas que vi. Meu coração barroco. Aquele choro me doeu. Mas eu fui. Foi quando meus olhos a divulgaram. A mulher era uma visão sob a pérgula. Eu não sabia o que era beleza até aquele dia.
Estava sentada num banco de pedra cercado de camélias vermelhas, ao lado da fonte. Havia uma escada com seis degraus que terminava no ar. Ligava parte alguma a lugar nenhum. A casa desmoronada no íntimo da pessoa.
A mulher, sua triste alma, naquela ruína. Me aproximei no cuidadoso jeito. Era uma tarde de junho como essa. O frio, frios. A mulher - a visão - fez sinal para eu parar e esperar. O que fiz nos respeitos. Ela se levantou, arrumou o vestido, olhou o céu. Entre as duas mãos largou a face e os cabelos de linho, depois seguiu. O tempo andou.
Eu vivia no lugar perdido, arrostando sol e vento, sem eira, sem beira. Os loucos dias no sanatório do mundo. Os ermos. Caminhos que se andam.
Um dia de fina luz de primavera ela veio em minha direção, pegou no meu braço. Caminhou, caminhamos. Em silêncio. Palavras que se dizem sem falar. Aconteceu a brilhante estrela caindo no meu caminho.
O punhal que me rasgava por dentro foi saindo, saiu.
Nos acolhemos, reunimos as raras pertenças.
Me tornei sentimento. Sentimentos.
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Foto: J. Finatto
Muito obrigado pela visita e pelo atencioso comentário.
ResponderExcluirJorge
Aqui em Brasília o dia nasceu acizentado como na sua fotografia. Clima como este é ótimo para convidar amigos queridos para tomarem um bom café com chantily no Café dos Ausentes, apreciando a vista do Vale do Olhar. E esquecer tudo que não merece ser lembrado em Passo dos Ausentes. Mas infelizmente estou em Brasília e desse acontecimento não poderei participar.
ResponderExcluirUm abraço.
Um lírico final, à lá Adélia Prado.
ResponderExcluirÓtimo texto, Adelar!
Abs.
Ricardo Mainieri
Cara Regina,
ResponderExcluirhoje o dia está tão frio, o nevoeiro é tão espesso em Passo dos Ausentes, que estou indo agora até a estação de trem abandonada da cidade para tomar um café com Juan Niebla, Nefelindo Acquaviva e Heitor dos Crepúsculos. No Café dos Ausentes, claro.
Um grande abraço. Obrigado.
Jorge
Caro Ricardo.
ResponderExcluirAdélia? Não mereço tanto.
Valeu.
Um abraço.
JF