segunda-feira, 10 de outubro de 2022

A ninfa

 Jorge Finatto

Ninfa. photo j.finatto

Ninfa. Escultura em mármore de Carrara de 1866, feita pelo arquiteto italiano Giuseppe Obino. Por muitas décadas esteve instalada na Praça Dom Sebastião, ao lado do Colégio Rosário, em Porto Alegre. Hoje, devido a atos de vandalismo, foi transferida para a praça da hidráulica do bairro Moinhos de Vento.

Às vezes uma lágrima escorre de seus olhos. Pelas mutilações de que foi vítima. Por todos os adolescentes que um dia viu cheios de ternura nos bancos da Praça Dom Sebastião.

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Esta escultura faz parte de um conjunto de quatro criadas por Obino, representando o Guaíba e seus afluentes.



terça-feira, 4 de outubro de 2022

Rosa é uma rosa é uma rosa

  Jorge Finatto


Escreveu Gertrude Stein:
"Rosa é uma rosa é uma rosa é uma rosa".

A rosa é um mundo em si, digo eu, em comunicação permanente com nosso mundo interior. Não se deixa aprisionar em definições nem precisa disso. É uma rosa...

O poeta Rilke amava as rosas acima de tudo.

Essa rosa fotografei no meu jardim.

Me recuso a colher rosas. Uma rosa não pertence a quem a planta e cuida. Ela é de todos.

O seu perfume inundou meu coração e está sempre comigo.

domingo, 25 de setembro de 2022

Primavera no Brasil

 Jorge Finatto

photo: jfinatto


A primavera deixa a gente mais, digamos assim, feliz (até onde é possível ser feliz do jeito que o país ficou nos últimos anos).

As formas e as cores iluminam a paisagem. Os seres esquecem a tristeza por um momento. Até o sofrimento fica um pouco contente.

As flores do meu jardim não me deixam mentir e acho que perdoam um certo exagero sensorial da minha parte...

quinta-feira, 15 de setembro de 2022

A mulher do retrato

 Jorge Finatto

photo: jfinatto

"A eternidade só existe como ilusão. Mas é uma bela ilusão."
(Do Livro de Horas do Monge Jorge, Contraforte dos Capuchinhos)

E, no entanto, ela está ali viva, na pequena moldura sobre a mesa do vendedor de quinquilharias da Feira de Antigüidades da Plaza Constitución, em Montevideo.
A brisa, um pouco fria às cinco da tarde, conversa com as folhas dos plátanos. O sol calmo espia entre os galhos.
Bela, ali está a jovem mulher desconhecida de 120 anos atrás. O semblante revela paz. Ou pelo menos resignação. Viver lhe traz algum encanto? Será feliz? Que sonhos acalentará?
Ela vestiu o seu vestido mais bonito pra tirar a primitiva fotografia. Sabia talvez que a imagem ia atravessar o tempo e oferecer-se a olhos curiosos no futuro distante.
O retrato caiu do toucador no casarão abandonado da Ciudad Vieja. Muitos anos se passaram na sombra. Um dia entrou num baú e foi levado ao antiquário. Depois à praça onde agora brilham, sob os plátanos, os olhos da linda mulher.
O que é uma fotografia? Um instante que não se deixa apagar.
Um fragmento de vida congelado no tempo.
Uma face de mulher que não se perdeu graças ao registro.
Pequena eternidade de luz.
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Texto revisto, publicado em 14.2.2015.

sábado, 3 de setembro de 2022

Horizontes

 Jorge Finatto

foto: jfinatto. Pocitos. Montevideo.


O bom de viver 

é que nunca alcançamos 

o horizonte. 

A navegação é infinita. 


Os horizontes são efêmeros. 

Só o tempo é eterno.

segunda-feira, 22 de agosto de 2022

Medialunita de manteca calentita

Jorge Finatto




a Dimitri e Cony


Montevideo es una ciudad grande com hábitos de cidade pequena. Aqui existe a siesta sagrada depois do almoço. Em cada esquina uma fruteira, um mercadinho, uma banca de jornal. Em comparação com Porto Alegre, não existe violência.

O Café Brasilero é parada obrigatória. De 1877, foi lugar cativo de Mario Benedetti e Eduardo Galeano, entre muitos outros poetas, escritores, artistas e livres pensadores em geral. Atendimento cordialíssimo, há anos me sinto da casa. Não existem no mundo melhores medialunas, sucos de laranja e cafés cortados.

Nesta cidade as pessoas encontram tempo para dar-se um tempo. E as livrarias são uma perdição. Não é à toa que nela viveram Juan Carlos Onetti e o Conde de Lautréamont.

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photo: jfinatto

terça-feira, 16 de agosto de 2022

O caminhante

 Clara Finatto

Minha filha Clara, habitante de Montreux

(Eu sou suspeito pra falar, mas achei o texto da Clara lindo e generoso. E confirmo que a experiência mais importante da minha vida foi e é a paternidade. Bjs., filha querida, e pros meninos Lorenzo e Lucas também. Amo vocês. JFinatto)


cruzou oceanos e conheceu continentes.
Com seus tênis nos pés, a mochila nas costas e a máquina nas mãos ele caminha pelas ruas com o olhar sempre atento e curioso.
Quem o observa logo percebe que a cada passo dado ele parece estar mais próximo de uma incrível descoberta.
Ele não tem pressa, observa cada detalhe da paisagem com uma paixão madura...sem ilusões, mas com esperança.
O caminhante já viveu grandes aventuras pelos caminhos percorridos, porém, segundo seus relatos, a grande aventura de sua vida foi ser pai. Conta que ser pai mudou tudo e trouxe sentido a sua existência.
O Caminhante é pai do Lorenzo, do Lucas e da Clara!
Pai, muito obrigada pela vida!