quinta-feira, 27 de junho de 2024

Esse olhar

                                              Jorge Finatto

Esse olhar que me olha do galho seco do plátano pode ser de espanto ou simples desconfiança ao me ver mirando-o através do olho frio da câmera. 

Aqui no gabinete eu já o amo só de vê-lo, lindo ser vivo perto da minha janela. 

O papagaio-da-serra ou charão me faz feliz só por existir na tarde cinzenta de junho.

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photo:  JF

terça-feira, 18 de junho de 2024

Parar o tempo

                                              Jorge Finatto


Entre as flores de lavanda o beija-flor exerce sua essência. A vida é breve. Sempre haverá um jardim e um beija-flor para iluminar o dia e parar o tempo. 

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photo, texto: JF

terça-feira, 11 de junho de 2024

Estrada nova

                                           Jorge Finatto

                             


A beleza da vida é que sempre há uma estrada nova querendo ser caminhada.

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photo: jfinatto, Canela, RS

terça-feira, 28 de maio de 2024

Encontro no Menino Deus

                                                              J.F.


A vida, a beleza que ela tem, é capaz de surpreender até as almas mais rudes e as mais tristes e desiludidas também. 

Nesse dilúvio que nos encharca o espírito, nos maltrata o coração, destrói casas e pontes, apaga histórias, não é fácil encontrar encanto.

Mas certas coisas afastam o desespero, mostram que a vida insiste em não naufragar em meio ao grande deserto das águas.

Como a pomba que voltou à arca com a folha de oliveira no bico mostrando a Noé que as águas tinham baixado, o sanhaço pousou na árvore diante da janela de Clara, no bairro Menino Deus. 

E ali ficou olhando um tempo pra ela como a dar-lhe as boas novas, boas vindas, saudando seu retorno ao lar. E Clara maravilhou-se e fez essa foto.

Deus iluminou outra vez a minha filha e o Menino Deus.
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photo: Clara Finatto, 27.5.24.

domingo, 26 de maio de 2024

Flor-de-maio

                                                             J.F.


                                                          

Pra não dizer que o mês de maio foi só essa desmesurada tragédia, eis que surge a flor- de-maio. Em meio à imensa sombra que caiu sobre o nosso Rio Grande do Sul, a flor de maio vem nos trazer um instante de beleza e alumbramento. E, por que não?, anuncia a chegada de melhores dias.

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photos: jf

quinta-feira, 23 de maio de 2024

Restos de um naufrágio

                                            Jorge Finatto

                           Imagens: Clara Finatto





                           

Pela rua passa, outra vez, um rio de lembranças no bairro Menino Deus. Voltaram os chaparrões com seu aguaceiro infernal, seus relâmpagos, seus raios e trovões assustadores. É a nova rotina que já ninguém mais agüenta.

Um tempo em que a ciência nada ou quase nada explica e no qual serviços públicos não se mostram à altura dos acontecimentos.

Pela rua flutuam coisas afogadas que pessoas perderam na fuga desesperada. São restos de muitas vidas que vão se distanciando na correnteza.

Quem dorme ao ouvir o vento batendo nas portas e janelas anunciando o naufrágio iminente? Nem os mortos.

Atônitos esperamos um dia azul que nos devolva o Sol e, quem sabe com ele, a esperança.

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As imagens impressionantes feitas por Clara Finatto hoje falam dessa tragédia com rara sensibilidade.

sábado, 18 de maio de 2024

Brasil, árvore solidária

                                                              J.F.                 

photo: Clara Finatto, bairro Menino Deus, Porto Alegre, maio 2024


A árvore pau-brasil, da qual se originou o nome do país, tem muitos galhos, gera sombra generosa nos dias de Sol forte e de seca, tem linda flor e bela cor vermelha em seu interior. É  madeira nobre, cobiçada, de lei, e, devido à extração impiedosa, necessita ser protegida.

O Brasil tem, como sua árvore, muitos braços/galhos de diversidade, solidariedade, calor humano, empatia e energia para a urgente luta contra a tragédia, e valor para a reconstrução.

Então o que eu vejo é que o Rio Grande do Sul sai mais forte desse desmesurado desastre, e sai mais resiliente, mais humano e aberto ao futuro. E, sobretudo, sai mais brasileiro. 

E o Brasil, com essa enorme capacidade humanitária revelada, sai mais brasileiro também.