Jorge Adelar Finatto
De não ver os olhos estão vazios.
De não escutar os ouvidos estão surdos.
Um dia encontrei no mapa aquela cidade ao sul.
Nela havia uma rua chamada Calle de los Suspiros.
Um lugar que nasceu num tempo muito velho.
A rua dos suspiros está povoada de passos perdidos.
Os fantasmas ocupam as casas coloniais.
Quem mora na rua dos suspiros?
A moça na janela olha as buganvílias.
O homem que não sai de casa vê seres incorpóreos nos telhados.
A luz das luminárias é amarelo calmo.
À noite se ouve nas pedras a batida de cascos de cavalos que não existem mais.
A rua dos suspiros é um camafeu pregado na alma do tempo.
Os ventos se reúnem na calle antes de sair a galope pelo mundo.
A dor envelheceu nesta rua.
Neste lugar, todos sofrem pra dentro.
Há um salão de baile desabitado com mesas no escuro.
A orquestra foi embora carregando a música e os casais que dançavam.
A rua dos suspiros habita um retrato no oblívio.
Quem chora a essa hora na calle deserta?
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Foto: J. Finatto
Imagem de Colonia del Sacramento, Uruguai.
O Uruguai desperta em nós, gaúchos, uma sensível identificação.
ResponderExcluirEsta cidade perdida no final do Uruguai, às margens do Rio da Prata já foi, em tempos idos, Brasil...
Uma calle de nome sonoro & poético, obviamente, despertaria no homem sensível este belo poema.
Abraço.
Ricardo Mainieri
Caro Ricardo,
ResponderExcluirColonia é uma bela cidade do século XVII, à beira do Rio da Prata, na outra margem de Buenos Aires. Infelizmente, fez parte do acordo entre espanhóis e portugueses que resultou na destruição dos Sete Povos das Missões. A cidade em si não teve culpa nenhuma. As duas potências coloniais da época é que decidiram exterminar as nossas Missões.
Colonia del Sacramento é um encanto e merece ser conhecida.
JAF