Jorge Adelar Finatto
photo: j.finatto |
Em 1985, eu reunia material para o livro que estava escrevendo sobre a vida e a obra do poeta, cronista e renovador da arte cênica brasileira Alvaro Moreyra. Durante uma entrevista que fiz com Guilhermino Cesar, no seu apartamento, na Avenida Independência, em Porto Alegre, sabendo do meu interesse em entrevistar Carlos Drummond de Andrade, ele me passou o telefone do poeta.
O mineiro Guilhermino foi um notável escritor, estudioso e professor, amigo de Drummond. Aquerenciou-se no Rio Grande do Sul, onde viveu, lecionou e escreveu até o fim da vida.
No Rio de Janeiro, mantive contato com Sandro Moreyra, jornalista, cronista esportivo, filho de Alvaro e Eugenia Moreyra, e também com outros familiares, que me auxiliaram generosamente no trabalho. Em Porto Alegre contei com a colaboração inestimável de Jorge Moreira, sobrinho de Alvaro.
Durante a permanência no Rio, tomei coragem e decidi telefonar para o bardo de Itabira, na tentativa de colher alguma declaração. Sabia da dificuldade de entrevistar Drummond, que na época contava mais de 80 anos.
Fiz a ligação para o número que Guilhermino me dera, sem levar fé. Imaginava encontrar insuperáveis interlocutores, senhas inacessíveis. Afinal, tratava-se do grande poeta brasileiro do século XX. Para meu espanto, porém, logo na primeira tentativa o próprio Drummond atendeu o telefone. O diálogo que se seguiu foi cordial e econômico. O poeta falou que havia escrito sobre Alvaro em livro. Não havia o que acrescentar ao que escrevera.
O raro habitante da Rua Conselheiro Lafayette, em Copacabana, atendeu-me com gentileza e atenção.
Em dezembro daquele ano, após receber o livro, Drummond escreveu-me uma carta que guardo como relíquia. Ao falar de Alvaro Moreyra, disse tratar-se de um escritor e de um amigo que lhe inspirava uma grande saudade, e que o trazia na memória do coração.
Nunca será demais lembrar que Carlos Drummond reconheceu no porto-alegrense Alvaro a sua mais forte influência literária, nos anos de formação, entre os autores brasileiros
Nunca será demais lembrar que Carlos Drummond reconheceu no porto-alegrense Alvaro a sua mais forte influência literária, nos anos de formação, entre os autores brasileiros
Da experiência guardei a lição de simplicidade e generosidade intelectual.
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Foto: J. Finatto. Escultura em bronze de Drummond, na Avenida Atlântica, Copacabana, Rio de Janeiro.
É, Adelar, os grandes tem na simplicidade seu brilho.
ResponderExcluirOs arrogantes tem esta pose para, quem sabe, esconder seus momentos de mediocridade.
Estas lembranças e estes objetos são como, diria Buñuel, nossos obscuros objetos do desejo.
Bela crõnica.
Abraço.
Ricardo Mainieri
Muito obrigado, caro Ricardo.
ResponderExcluirUm abraço.
JF