Jorge Adelar Finatto
A solidão da palavra é, na verdade, partilha.
A solidão é nosso lugar no mundo. Cada um vive na sua ilha da maneira como pode. Palavras são barcos que abrem caminhos entre as ilhas.
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Escrever é particular e solitário como viver. É um modo de comunicação difícil, isolado, clandestino.
Não tenho hora para escrever, mas gosto da noite. Escrevo em qualquer lugar e não só no escritório. Posso escrever em avião, sala de espera, quarto de hotel, fila, ônibus, trem, banco de praça.
Também gosto de escrever nos cafés. É um estar sozinho acompanhado. Não importam as conversas, os ruídos do entorno. Escrevo à mão, em pequenos cadernos, em páginas de livros, folhas soltas.
Se fosse músico ou pintor, acho que não escreveria. A música e a pintura são linguagens universais. Não precisam tradução, intérpretes, obras de consulta, dicionários. Basta ouvir, ver e sentir. É o ideal da arte. Não é o caso do texto, que se limita àqueles que sabem a língua.
Escrever, escrever de verdade, com compromisso e sentimento, é ofício duro. Salvo raras exceções, não é possível viver de literatura. É necessário ter outra profissão para sobreviver. O tempo para escrever e ler é pequeno.
Uma ocasião alguém me perguntou como encarava o fato de escrever há tanto tempo, ter alguns livros publicados, e permanecer um autor desconhecido. Eu disse que via com naturalidade.
Olhando para os que vieram antes, encontramos cerca de quatro mil anos de passado literário. O livro de Gênesis, por exemplo, foi concluído por Moisés em 1513, antes de Cristo. Se tomarmos apenas os escritores que surgiram a partir da Idade Média, encontraremos centenas e centenas de bons autores esperando leitura.
O tempo do leitor é raro.
O mundo dos livros também é regido por leis de mercado. Certos escritores têm presença constante nos meios de comunicação, nos catálogos das editoras e nas estantes de livrarias, por diversas razões, principalmente comerciais. A qualidade literária nem sempre é o critério mais observado nesse processo. Então ser lido, mesmo por poucas pessoas, sendo escritor fora do mercado, é realmente uma coisa notável.
A solidão é nosso lugar no mundo. Cada um vive na sua ilha da maneira como pode. Palavras são barcos que abrem caminhos entre as ilhas.
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Foto: J. Finatto. Amanhece sobre o mar.
Sabemos, Adelar, que grande parte da culpa do ocaso da leitura corre por conta da indústria cultural.
ResponderExcluirNos últimos anos parece que quando pior a qualidade mais vendável esse produto se torna.
A mídia usa seus caros espaços para receber, divulgar, produções artísticas de medíocre qualidade e veda estes mesmos espaços às grandes manifestações do espírito.
Assim, um grupo seleto e opinativo de leitores é um grande feito.
Continuemos nesta guerra de guerrilhas literárias. Algumas batalhas, certamente, iremos vencer.
Abraço.
Ricardo Mainieri