José Saramago
Quando hoje saí do hospital, fresco como uma rosa, trazia comigo duas satisfações. Uma, a de me ter visto livre, finalmente, de uma impertinente bronquite que há meses, com altos e baixos, parecia não querer largar-me, mas que desta vez teve de resignar-se a ir à procura doutro hospedeiro. Oxalá não o encontre. A segunda satisfação era de diferente natureza. Sucede que neste pequeno hospital de Lanzarote, certamente com surpresa de quem me leia, trabalham nada mais, nada menos que 17 ou 18 enfermeiros vindos de Portugal, da província do Minho na sua maior parte. Sucede também que, antes de sair, tive de fazer uma radiografia ao tórax para que ficasse devidamente documentado que o paciente, como costuma dizer-se, está bem e recomenda-se. Eu levava posto o que hoje chamamos um “jersey”, portanto foi um “jersey” que despi e deixei em cima de uma cadeira. O enfermeiro, português de Felgueiras, devia verificar se as chapas haviam resultado tecnicamente satisfatórias e, para isso, teve de passar para um compartimento ao lado. Disse: “São só dois minutos, depois dou-lhe a camisola”. Creio que estremeci. Não tornara a ouvir a palavra desde há uns trinta anos, talvez mais, e aqui, em Lanzarote, a dois mil quilómetros da pátria, um jovem enfermeiro de Felgueiras, sem o imaginar, dizia-me que a língua portuguesa ainda existia. Abençoada bronquite.
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*Publicado com autorização da Fundação José Saramago
http://www.josesaramago.org/
Texto extraído do blog O Caderno de Saramago
http://caderno.josesaramago.org/.
Publicado originalmente em 21/abril/2009.
A grafia é a de Portugal.
Foto: José Saramago escrevendo Caim. Arquivo da Fundação.
*Publicado com autorização da Fundação José Saramago
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Texto extraído do blog O Caderno de Saramago
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Publicado originalmente em 21/abril/2009.
A grafia é a de Portugal.
Foto: José Saramago escrevendo Caim. Arquivo da Fundação.
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