segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Tempo e palavra

Jorge Adelar Finatto
 

A maravilha custa caro

o tempo de viver
é o lugar
da elegia
e do milagre

as estrelas cadentes
são nossas irmãs

é preciso devolver
a Deus
a vida emprestada

o que nos vale
nesse desamparo?

a escrita introspectiva
e visceral
do poema
remete ao silêncio
e ao desapego
de tudo que é vaidade

de que tempo nos fala
o poema?
certamente não daquele
que se conta em ampulheta

fala de experiência outra
o coração abrangente
das coisas do mundo
que é o saber próprio
e intransferível
da poesia

é preciso que alguém
desvele o inefável
mostre o que vai além
procure com ternura
o território delicado

o poeta fala por nós
e para nós

a ele devemos
o supremo esforço
de traduzir o que se perde
na neblina

a face da palavra
me salva
na escuridão
do mundo

__________

Poema do livro Memorial da vida breve, Editora Nova Prova, Porto Alegre, 2007.

4 comentários:

  1. Aos poetas é dada esta missão de traduzir os sentimentos intraduzíveis, de refletir sobre a finitude, de, além disso, passar uma tênue esperança, que seja...
    Belo este poema com sua carga de transcedência e silenciioso desespero.

    Abraço.

    Ricardo Mainieri

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    1. Como sempre, um comentário criativo e percuciente, Ricardo! Abraço.

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  2. achei muito legal e interesante esses poemas !! otimo autor

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