terça-feira, 28 de setembro de 2010

Baaria, A Porta do Vento

O Cavaleiro da Bandana Escarlate


Alberta de Montecalvino, a grande dama de Passo dos Ausentes, enviou-me uma mensagem através de Heráclito, o pombo-correio. Invocando a cláusula pétrea da amizade, pede-me que escreva algo sobre o filme Baaria, A Porta do Vento (Itália, 2009), do diretor Giuseppe Tornatore. A película não passará em Passo dos Ausentes porque o cinema que lá havia, o Cine Esplendor, fechou em 1955. Os anos 50 do século XX foram ferozes com os Ausentes.

Resistir a um pedido de Alberta, quem há-de? Vocês já leram o texto que ela publicou neste blog em 14 de junho passado? Não deixem de fazê-lo.

Conheço Tornatore de outros filmes, como Cine Paradiso, Malena e Estamos Todos Bem.  Ele é sentimental e verdadeiro, mas não é bobo. O filme é uma viagem afetiva através do tempo, tendo Baaria, cidade natal do diretor, como cenário. Uma viagem através de um álbum de família no interior de um cartão postal. Lá estão seus pais, irmãos, amigos, lugares. Lá está a pobreza. E também a luta, a esperança. Baaria é uma espécie de gíria que significa porta do vento, palavra de origem árabe ou fenícia. O nome certo da cidade é Bagheria e fica na região da Sicília.

Assistimos à passagem do tempo na vida das pessoas e da cidade, entre os anos 1930 e 1980. As mudanças são testemunhadas pelo olhar de Peppino, desde menino até a velhice. Como qualquer cidade, em Baaria tem o louco, o  nefelibata, o aleijado, as brigas familiares, a solidão das janelas olhando a estrada (tão Passo dos Ausentes), a dificuldade de viver, meninos  brincando, tirando frutas do pomar alheio, namoros, romances, violência.


Tornatore denuncia a máfia e o fascismo, embora não  se detenha a examinar a extensão dessas organizações. A obra mostra um país com muitas feridas, mas sobretudo enaltece o amor familiar e a amizade.

É a história de gente pobre que ficou na Itália após a grande  diáspora. Ainda está por ser contada a outra história, a dos que emigraram, dos que foram expulsos da mãe Itália no último quarto do século XIX, cerca de dez milhões de pessoas. Famílias inteiras separadas para sempre. Essa foi a maneira como muitos países europeus "resolveram" na época seus problemas econômicos, políticos e sociais. Esse Amarcord faltou na obra de Fellini. Quem sabe Tornatore não o fará um dia?

Tem gente torcendo o nariz para Baaria, A Porta do Vento. A meu ver, injustamente.

A trilha musical do velho Ennio Morricone é bela, a fotografia é encantadora.

Eu chorei algumas vezes durante o filme. Emoção derramada por ver na tela fragmentos da vida pequena numa cidadezinha italiana, em tudo tão parecida com o nosso interior do Rio Grande do Sul.

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Fotos: Paris Filmes, divulgação.

2 comentários:

  1. Adelar, gosto de revisitar parte de minhas origens ancestrais nestes filmes italianos de época.
    Assim foi com Fellini, Scola, De Sicca, Pasolini e tantos outros.
    O bom cinema que, hoje, se encontra colocado à parte, numa modernidade que só aposta em efeitos especiais e filme de ação.
    Vou ficar atento a este título.
    Valeu!

    Ricardo Mainieri

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  2. É um belo filme, amigo Ricardo. Vais gostar. Um abraço.

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