quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Sete anjos velam à beira do poeta

Jorge Adelar Finatto


Sete anjos velam à beira do poeta. A primavera deitou lilases na cidade.  Os olhos estão apagados. As mãos nada mais seguram, nem flores, nem lápis, nem vento. Recorda o longo caminho de passos perdidos: não encontrou seu coração.  Sete anjos velam enquanto o poeta afunda na escuridão. Sete noites, sete estrelas, sete nuvens. Lembra os desaparecidos, os medos noturnos, a seca garganta da solidão, a poesia triste e inútil que cultivou. Sete anjos velam enquanto o poeta cai no esquecimento. Adormece num banco da pequena praça. Um fantasma caminha nas cercanias com seu boné e sua manta. Os anjos em suas vestes  brancas velam o poeta em volta daquele banco. Sonha com Henrique, sonha com Heitor. O difícil silêncio dos que partiram. Depois sente um ermo de fundo de pedra. Em volta da praça nascem hibiscos amarelos, vermelhos, brancos e um outro, de uma estranha cor que não tem nome.

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Desenho: J. Finatto, bico-de-pena, 1979.

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