O planeta girava em lentos círculos. Aquela rua de chão batido era um grão à deriva no universo. Em certas noites geladas de junho, a conversa avançava pela madrugada. Na cozinha, em volta do fogão a lenha que ardia, cada um contava uma história, um caso real ou inventado. As notícias eram poucas. O rádio, quando pegava alguma estação, fazia zumbido de mil abelhas. A luz elétrica de tão fraca era de um laranja escuro. O menino tinha vindo ao mundo há cinco, seis anos. Estava vivo contra todas as expectativas devido à saúde frágil. Era bom adormecer ouvindo vozes na velha casa de madeira de pinheiro. Era bom fazer parte daquele retrato perdido no tempo. Era uma dádiva estar vivo no labirinto. Riscos de estrelas atravessavam o céu, caíam num lugar misterioso ali perto. Sobreviventes na longa noite austral, as pessoas observavam a geada encobrindo a escuridão lá fora. Águas subterrâneas corriam limpas debaixo das casas, afloravam nos poços, encanamentos, regavam secos sentimentos, derrubavam muros de ódio, lavavam a sujeira dos corpos, das almas. Para onde foram aquelas vozes? - pergunta o coração do menino - para onde correram aquelas águas?
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Foto: J. Finatto
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