Um vasto silêncio. O viajante entrou na fotografia. Atravessou para o outro lado. Caminhou na névoa como se andasse dentro de si mesmo. Pisou na grama a esmo, interiorizou-se na paisagem em busca de algo, talvez de alguém que um dia ele foi e se perdeu. Aqui fora, só o que vê são vultos ao redor. Não vislumbra mais rostos como antigamente, não sente o seu coração nem o das pessoas batendo. Agora quando acorda tudo lhe parece estranho. O espelho mostra uma face sem expressão, uma boca onde a palavra já não habita. Há um banco solitário na praça vazia desse olhar. Esse olhar de nuvens. A tarde caiu no interior do retrato. Ficou frio. Ele deitou e dormiu embaixo de uma árvore com o casaco por cima como fez uma vez aos 20 anos. Está feliz naquele lugar como há muito não acontecia. Está sozinho, mas se sente inteiro. Não entende como a vida foi escurecendo dentro dele. Invadiu a fotografia tentando se afastar do labirinto e se encontrar. Um vento leve e úmido bate-lhe na cara. Por enquanto ele pode ficar ali, longe de tudo, distante do mundo. Ninguém vai procurá-lo naquele território ausente. Mais tarde, só mais tarde, retornará. Quem sabe reencontrará a palavra e o sol na saída do retrato.
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Foto: J. Finatto
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