sexta-feira, 8 de abril de 2011

Caminhando na beira do rio

Jorge Adelar Finatto

photo: j.finatto (Guaíba, o rio)


O que fazer numa tarde como essa? Azul e fresca, presente transparente do outono. A pergunta pode soar insolente a milhões de homens e mulheres que, em todo o mundo, a esta hora, estão trancados em obscuros ambientes de trabalho.

Vivemos em prisões boa parte da vida. Quando percebemos, passaram-se 30 anos sem nenhuma tarde livre de outono, sem sonhos realizados, sem perspectiva de algo melhor. A vida se resume a ganhar o pão honestamente, ser útil cidadão de bem, o que já não é pouco, mas não é tudo.

As nossas coisas interiores podem esperar, e sempre esperam. Até que um dia o coração amanhece frio. Não reconhecemos aquele rosto no fundo do espelho.

Por isso é bom ter um plano de fuga para executar numa tarde assim. Fugir pelo bordado amarelo do sol no espaço anilado.

Por um momento, esqueço o mundo diante da visão consoladora dos barcos, dos pássaros e do rio.

Fique então registrado, nos alfarrábios da eternidade, que, nesse dia de abril, no sul longínquo do Brasil, um homem parou o tempo para caminhar na beira do Guaíba, sob a concha do céu, e se sentiu vivo. Assim seja.

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Foto: J. Finatto

2 comentários:

  1. Ah, Adelar, como as pessoas precisam dessas fugas...
    Principalmente, aquelas mais sensíveis que não se entregam, docemente, aos grilhões do mundo diário, com suas obrigações, cobranças, desgastes.
    Lembrei-me de alguns poemas de Gullar, onde ele, mentalmente, revive episódios da infância e a compara com a sua vida cotidiana.
    Na meninice tinhamos estes períodos de fuga, quase em tempo integral.
    Agora, estes momentos, são como o sol benfazejo iluminando nosso escuro rio interior...

    Abraço.

    Ricardo Mainieri

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  2. É isso, caro poeta. Vamos juntos na caminhada.

    Um abraço.


    JF

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