Jorge Adelar Finatto
A vida é tão curta e o ofício de viver tão difícil que, quando se começa a aprender, se tem de morrer.
Ernesto Sabato
A arte é uma forma de construir afetos. Através da criação artística nos aproximamos de pessoas que nunca vimos e com as quais jamais mantivemos contato. O criador passa a fazer parte da nossa íntima família espiritual. No caso da literatura, escritores e leitores irmanam-se na convivência dos livros. Um não existe sem a presença (e a atenção) do outro. Ernesto Sabato, membro importante desta família invisível, acaba de nos deixar.
O grande escritor argentino morreu na madrugada de sábado (30 de abril) em sua casa na cidade de Santos Lugares, perto de Buenos Aires. Sabato tinha 99 anos e completaria o centenário no próximo dia 24 de junho. Ele sofria de bronquite. Ontem, domingo, ele foi homenageado na Feira do Livro de Buenos Aires.
Ernesto pertencia a um grupo reduzido de escritores cuja obra guarda estrita coerência com a vida, desses que têm nos valores éticos e no senso de justiça a sua maior referência.
Um lutador pelos direitos humanos, preocupado com os problemas de seu tempo, ele presidiu a Comissão Nacional sobre o Desaparecimento de Pessoas (Conadep) na Argentina. Nomeado por Raúl Alfonsín, primeiro presidente democrático após o fim da ditadura militar, Sabato conduziu os trabalhos da equipe que elaborou o informe "Nunca Más", também conhecido como Informe Sabato. O documento minucioso apontou 8.960 desaparecidos, além da existência de 340 centros ilegais de detenção e tortura. O relatório deu origem aos processos que resultaram na condenação dos responsáveis pelas ações da ditadura. Sabato sempre se opôs à elaboração de leis que visavam ao "ponto final" nas responsabilizações.
Sou um simples escritor que viveu atormentado pelos problemas de seu tempo, em particular pelos de sua nação. Não tenho outro título (E.S.)
Filho de pai italiano e mãe albanesa, o escritor doutorou-se em Física em seu país em 1938.Trabalhou em pesquisas no Instituto Curie, em Paris. Na década de 1940 renunciou à ciência por considerá-la amoral, passando a dedicar-se integralmente à literatura e à pintura.
Estava quase cego, sofria de depressão e nos últimos anos passava recolhido em sua casa. Pintava às vezes e encontrava alento escutando música. Autor de obras importantes como O Escritor e Seus Fantasmas, A Resistência, Sobre Heróis e Tumbas e O Túnel, ele se considerava uma espécie de anarquista cristão que só crê na paz e na justiça social.
Pelo tanto que fez neste mundo e neste tempo conturbados, pelos valores que cultivou e praticou, o nosso reconhecimento ao escritor e humanista Ernesto Sabato.
Pelo tanto que fez neste mundo e neste tempo conturbados, pelos valores que cultivou e praticou, o nosso reconhecimento ao escritor e humanista Ernesto Sabato.
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Texto elaborado a partir da leitura das obras O Escritor e Seus Fantasmas, Sobre Heróis e Tumbas e A Resistência e de informações colhidas, no domingo, no site do jornal espanhol El País: http://www.elpais.com e do jornal argentino Clarín: http://www.clarin.com/
Traduções do blog.
Foto do escritor Ernesto Sabato: El País.
Foto do escritor Ernesto Sabato: El País.
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