Jorge Adelar Finatto
photo: j.finatto |
Não esqueçam
de me visitarnas noites
de inverno
quando o medo
cobra caro
e as feridas
não deixam mentir
insolúvel jogo
de espelhos
entre mim
e o que fui
ando bêbado
pela casa
meu coração
é operário
desempregado
com filho pra criar
mulher feia
sem crédito no armazém
me enrosco
em invenções
inúteis
pra repartir contigo
um espaço de ternura
sinto umas
coisas estranhas
caminharem atrás de mim
um cano de fuzil
um casal de velhos famintos
um câncer
e me desagrada não ser
como certos fantasmas
convoco o
silêncio esuas raízes
inauguro a
manhã
não, eu não sou
uma estrela
um rio
um barco
nada se compara
ao que sinto
preciso todos
ao redor da mesa
principalmente
os desaparecidos
como certos crepúsculos
que a gente vê
fogem e nunca mais
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Poema do livro Claridade, co-edição Prefeitura Municipal de Porto Alegre, Editora Movimento, Porto Alegre, 1983.
Este é mais um de teus poemas hours-concours, de um livro maravilhoso.
ResponderExcluirVou divulgá-lo em meu Facebook para que outros escritores conheçam tua obra e teu site.
Abraço.
Ricardo Mainieri
Só posso te agradecer, estimado amigo e poeta Ricardo.
ResponderExcluirConseguir ver valor nos outros é uma mostra de elevado padrão ético e bondade.
Um grande abraço.
Adelar
Caro Adelar, talvez um amigo comum, apresentou-me ao "fazedor de auroras".
ResponderExcluirSurpresa ao me encontrar com recordações dos amigos e do crédito no armazém
Postei algo particular para compartilhar contigo
MEUS AMIGOS
Com crédito no armazém
O estômago vazio
Assim me consolidei
Brioso
Minha mãe dizia,
Desse jeito forja-se o aço
Sem crédito no armazém
O caderno sem espaço
Assim me atolei
Engasgado
Minha mãe dizia,
Desse jeito se arranha o aço
Com vergonha
Sem vigor
Assim fiquei
Ofuscado
Minha mãe, então, disse:
Assim, não te conheço
Amigos, onde estão?
abraços
CRM
Caro poeta.
ResponderExcluirFico feliz com sua presença e com os textos que enviou. A gente se "consolida" nas coisas que escreve. Me lembro que se escrevia em papel de pão na minha infância. Claro, me refiro aos tempos primitivos em que, com outros colegas, tínhamos aulas na Arca de Noé, com o próprio...
Desculpe a desmemória, mas não identifico as iniciais.
Um grande abraço.
Adelar