Jorge Adelar Finatto
De sol passou a chuva. Assim, sem aviso. Veio um vento, nuvens correram. Bateram uns trovões danados, luziram clarões. Caíram os primeiros pingos. Quase tudo ficou calado, submerso no som da chuva.
Estava sentado no café, numa mesinha de frente, atrás do largo vidro da janela. Lia alguma coisa e olhava a praça do outro lado da rua. Um peixe com grossas lentes no aquário.
Apareceu então aquele vestido vermelho, correndo, iluminando o coração deserto.
Soaram em mim uns acordes de Joaquín Rodrigo, sei lá, a tristeza e o sonho do Cavaleiro da Triste Figura.
Apareceu então aquele vestido vermelho, correndo, iluminando o coração deserto.
Soaram em mim uns acordes de Joaquín Rodrigo, sei lá, a tristeza e o sonho do Cavaleiro da Triste Figura.
De longe não se via a dona do vestido. Só a mancha vermelha atravessando a praça, em diagonal, entre os canteiros de rosas. Uma visão fugidia, deslizante, da direita para a esquerda, em linha descendente.
Um vestido vermelho andaluz. Naquela praça que chovia. Na tarde do coração deserto.
Entonces, Adelar, veiste la gitana, alguna bailante perdida del companhia de Antonio Gades!!!
ResponderExcluirUma crônica bem delineada, com o inesperado se fazendo presente em tons escarlates.
Posso imaginar qual seja este café e qual esta praça em frente, mas deixemos o mistério para o leitor elaborar.
Estive no Congresso de Poesia de Bento, agora em início de outubro e tive certa decepção com uma pessoa que nos é cara: Márcio Borges
Perguntei-lhe sobre o fazer poético embutido na letra de música e citei vários letristas, inclusive ele. Márcio se mostrou irritado com a pergunta e não quis respondê-la, dizendo que não era poeta e já o tinha dito no início da apresentação.
Bem, nem sempre o homem consegue se aproximar de sua obra. Este foi um caso, mas devem haver outros.
Abraço.
Ricardo Mainieri
Caro amigo Ricardo.
ResponderExcluirA poesia só se revela pra quem tem olhos para descobri-la. Nesse sentido, feliz de quem consegue vê-la e senti-la. Existe poesia fora e além dos livros e dos discos. O Quintana dizia que ser poeta é menos um modo de escrever e mais um jeito de ser (com outras palavras). Não acredito em poeta profissional. A gente às vezes é poeta. Então quem faz letra de música pode ter momentos de criação poética (como, aliás, tem muito dito poeta escrevendo publicidade e não poesia).
Um grande abraço, fico feliz sempre com a presença.
JF
Tao lindo, Finatto, quando um coração poeta se arrebata por um vestido vermelho passando ao longe, na chuva e a gente consegue ver e sentir e se comover...Abração!
ResponderExcluirQuerida Graça.
ResponderExcluirFico cheio de moral com a tua visita.
Aquele abraço. Essa tua foto tá muito bonita e o teu blogue, idem, claro.
JF