Sempre cismei um teatro que fizesse sorrir, mas que fizesse pensar. Um teatro de reticências...
Alvaro Moreyra
O Teatro de Brinquedo, criado pelo casal Eugênia e Alvaro Moreyra, em 1927, é considerado o primeiro movimento importante de renovação da arte cênica brasileira. A experiência constituiu-se na criação de um teatro de arte em oposição ao que era feito até então. Integrado por pessoas que não dependiam do palco para sobreviver, o movimento abriu novos caminhos para a nossa dramaturgia.
O que se fazia em teatro até a iniciativa do gaúcho Alvaro (poeta, escritor, jornalista, teatrólogo, cronista {1888-1964}) e da mineira Eugênia (considerada a primeira repórter brasileira {1898-1948}), com poucas exceções, eram espetáculos de feição popular. Mas popular no mau sentido: pouca qualidade, desorganização, com o único intuito de distrair a plateia e faturar.
A respeito do que queria com o Teatro de Brinquedo, disse Alvaro semanas antes de estreia, em 1927: "Um teatro de ambiente simples, até ingênuo, bem moderno, para poucas pessoas cada noite (...) Representaríamos os nossos autores novos e os que nascessem por influência nossa. Daríamos a conhecer o repertório de vanguarda do mundo todo. Os espetáculos de uma peça seriam um gênero. Seria outro gênero a apresentação de programas com pantomimas, de lendas brasileiras, canções estilizadas, comédias rápidas, motivos humorísticos. Nesses programas, tomariam parte poetas dizendo os seus poemas, músicos tocando as suas músicas".
Para a época, era uma proposta avançada. E Alvaro tinha consciência disso. Por essa razão, não alimentou ilusões de que o público iria aderir de imediato à nova ideia. Segundo ele, o Teatro de Brinquedo era "da elite para a elite". Isto é, buscava chamar a si aquelas pessoas da pequena burguesia que não freqüentavam a plateia por falta de espetáculos de qualidade. Durante a década de 20, a elite só comparecia ao teatro para assistir a companhias estrangeiras, principalmente portuguesas, francesas e italianas.
Alvaro e Eugênia queriam ver no palco, também, trabalhos que pensassem a realidade e a cultura brasileiras. Naquela época, chegaram a fazer montagens na periferia do Rio de Janeiro.
Alvaro e Eugênia queriam ver no palco, também, trabalhos que pensassem a realidade e a cultura brasileiras. Naquela época, chegaram a fazer montagens na periferia do Rio de Janeiro.
Alvaro Moreyra, revista Para Todos, 1927 |
O casal Moreyra sabia que o projeto não poderia contar com atores profissionais, porque estes precisavam daquele outro espetáculo, com casa cheia. O grupo, portanto, seria integrado por gente amorosa do palco "senhoras e senhoritas da sociedade do Rio, escritores, compositores, pintores. Tudo gente de noções certas. O teatro da elite para a elite. Teatro para as criaturas que não iam ao teatro".
O nome Teatro de Brinquedo veio do fato de os cenários serem muito simples, imitando caixas de brinquedo, com muita graça e certo tom lúdico. A estreia aconteceu em 10 de novembro de 1927, no Salão Renascença do Cassino Beira-Mar, no Rio, com a encenação da peça Adão, Eva e outros membros da família, de Alvaro Moreyra.
A iniciativa contou, ao longo do tempo, com a participação de gente destacada no meio cultural, como Felipe D'Oliveira, Olegário Mariano, Antônio de Alcântara Machado, Di Cavalcanti, Lúcio Costa, Tarsila, Hekel Tavares, Aida Procópio Ferreira e muitos outros.
Em 1937, o casal criou a Companhia de Arte Dramática Alvaro Moreyra, contratada, após concorrência, pelo Ministério da Educação do Governo de Getúlio Vargas. O Ministro Gustavo Capanema criara, no ano anterior, a Comissão do Teatro Nacional, que tinha entre os objetivos desenvolver a atividade teatral e promover estudos sobre o teatro.
Durante as apresentações, que ocorreram em 1937 e 1938, a companhia Alvaro Moreyra encenou peças de Ibsen e Pirandello, entre outros autores, em Porto Alegre, Rio e São Paulo. Além das peças, Alvaro realizava as "tardes culturais", nas quais havia palestras e coversas informais com o público sobre a história do teatro.
No Rio, o trabalho foi realizado no Teatro Regina. Gustavo Dória, no livro Moderno Teatro Brasileiro, publicado em 1975 pelo Serviço Nacional de Teatro, observa que, por essa época, Eugênia aproveitou um grupo de atores afastados do palco e organizou, com o apoio da Casa dos Artistas, um conjunto que percorreu os subúrbios da cidade, apresentando-se em circos, pavilhões, cineteatros e clubes. No repertório, havia Mãe, de José de Alencar; O noviço, de Martins Pena; O Rio, de Carlos Lacerda; Hedda Gabler, de Ibsen (protagonizada por Eugênia); Magda, de Sudermann, e Uma mulher e três palhaços, de Achard.
O Teatro de Brinquedo e, depois dele, a Companhia de Arte Dramática Alvaro Moreyra cumpriram um valioso papel, colaborando para renovar a nossa dramaturgia e, ao mesmo tempo, para abrir espaço aos que vieram depois.
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Texto reproduzido do livro Alvaro Moreyra, Jorge A. Finatto, Editora Tchê, Porto Alegre, 1985.
Foto de Eugênia: fonte: Wikipédia. Autor desconhecido.
Leia também:
Alvaro Moreyra:
http://ofazedordeauroras.blogspot.com.br/2012/03/alvaro-moreyra.html
No Rio, o trabalho foi realizado no Teatro Regina. Gustavo Dória, no livro Moderno Teatro Brasileiro, publicado em 1975 pelo Serviço Nacional de Teatro, observa que, por essa época, Eugênia aproveitou um grupo de atores afastados do palco e organizou, com o apoio da Casa dos Artistas, um conjunto que percorreu os subúrbios da cidade, apresentando-se em circos, pavilhões, cineteatros e clubes. No repertório, havia Mãe, de José de Alencar; O noviço, de Martins Pena; O Rio, de Carlos Lacerda; Hedda Gabler, de Ibsen (protagonizada por Eugênia); Magda, de Sudermann, e Uma mulher e três palhaços, de Achard.
O Teatro de Brinquedo e, depois dele, a Companhia de Arte Dramática Alvaro Moreyra cumpriram um valioso papel, colaborando para renovar a nossa dramaturgia e, ao mesmo tempo, para abrir espaço aos que vieram depois.
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Texto reproduzido do livro Alvaro Moreyra, Jorge A. Finatto, Editora Tchê, Porto Alegre, 1985.
Foto de Eugênia: fonte: Wikipédia. Autor desconhecido.
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http://ofazedordeauroras.blogspot.com.br/2012/03/alvaro-moreyra.html
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