Jorge Adelar Finatto
Meu amigo Luiz e eu tínhamos 9 anos e um sonho comum.
Um dia embarcaremos num navio da Marinha do Brasil, no cais de Porto Alegre, sairemos a navegar pelas águas do Guaíba, da Lagoa dos Patos e, por fim, chegaremos ao mar.
Ser marinheiro era nossa maravilha. Luiz tinha parentes na Marinha. Possuía, portanto, as informações sobre como realizar o sonho.
Vendo minha seriedade no trato das coisas do mar, ele me presenteou com um boné de marinheiro de verdade. Uma emoção que ainda hoje me toca. Já me sentia um membro da armada nacional.
Algum tempo depois, apareceu lá em casa um grupo de rapazes e moças participantes de uma gincana. Estavam atrás de um boné de marinheiro que valia muitos pontos na tal competição.
Não sei quem lhes deu a informação, o fato é que, diante dos apelos e da promessa de devolução, emprestei-lhes o meu precioso boné.
Não sei quem lhes deu a informação, o fato é que, diante dos apelos e da promessa de devolução, emprestei-lhes o meu precioso boné.
Esperei por meses que eles voltassem. Mas jamais nenhuma daquelas pessoas veio para devolver o boné ou dar qualquer explicação.
Anos mais tarde, Luiz ingressou na Marinha, realizando assim o nosso sonho na parte que lhe cabia. Eu permaneci ilhado no continente, minha vida seguiu por outras águas.
Às vezes fico diante do rio, olhando os navios, os barcos, as gaivotas. Isso me enche de saudade de algo que não aconteceu.
Nunca deixei de ser o menino que um dia sonhou ser marinheiro. No fundo, acho que esse é o meu maior tesouro.
Adelar, no fundo és um marinheiro, pois navegas nas águas da poesia. Interessante este momento pessoal, esta partilha de um sonho que não se concretizou. Mas, que isso permanece em teus escritos, ah sim, permanece.
ResponderExcluirAbraço.
Ricardo Mainieri