segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

As órbitas misteriosas

Jorge Adelar Finatto


photo: j.finatto


A coisa mais difícil do mundo é encontrar guarda-chuva perdido.

O meu guarda-chuva desapareceu num início de outono. Éramos inseparáveis até então.

Nos perdemos num dia de forte neblina nos Campos de Cima do Esquecimento. Tínhamos saído para dar uma volta aqui em Passo dos Ausentes, garoava.

Num momento em que me distraí, veio um pé-de-vento e o arrancou de minhas mãos, ele saiu voando alto, foi em direção ao Vale do Olhar, nunca mais voltou. Desnecessário dizer que deixou uma dor no meu coração.

Decerto ele agora anda em órbita em volta da Terra, como as bonecas de trapo das primas antigas e os borzeguins azuis do major.

Tudo que um dia perdemos vira um ponto de luz no espaço.

(As coisas perdidas deixam sempre algum rastro.)

Por isso, acredito que nada do que amamos se apaga simplesmente.

O meu guarda-chuva perdido era como amigo de infância.

A gente nunca esquece, mas não sabe ao certo para onde o vento o levou.

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