quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

O escritor e seu carnaval

Jorge Adelar Finatto


pintura: Maria Machiavelli


O escritor sai pela rua no seu solitário bloco de carnaval.

Como será uma fantasia de escritor? A cara pintada de palhaço. Um enorme nariz de papelão. Nos olhos, grandes óculos redondos e pretos em forma de bicicleta. Um bigode de trilho de trem. Na cabeça, o chapéu de Napoleão, feito de folha de jornal.

Um par de borzeguins vermelhos desamarrados.

Na esquina, ele se mistura ao cordão de foliões, se deixa levar pelas ruas do bairro fantasiado da estranha criatura que, na verdade, é. Ele vai com o cordão pelo meio da praça, de mãos dadas com a alegre mascarada que encontrou pelo caminho. Ela tem pequenos olhos azuis e cabelos pretos escorridos nos ombros.

O escritor e a mascarada dispersam-se do grupo. O dia amanhece. Encostados nas costas um do outro eles descansam num banco da praça. Ele com um catavento na mão. Ela com um hibisco amarelo preso no cabelo.

Uma chuva de verão começa a cair. Eles correm e entram no Café da Aurora que àquela hora  abre a porta aos primeiros fregueses. Pedem uma taça de café preto, o pão ainda quente do forno.

Enquanto isso, lá fora, sob a chuva azul, arlequins, colombinas e pierrôs passam molhados na calçada, cantando As Pastorinhas.

2 comentários:

  1. Um Carnaval de alegorias poéticas. Bom, como os velhos tempos. Divulguei no Facebook, que sabe apareçam outros arlequins e colombinas por este espaço.

    Abs.

    Ricardo Mainieri

    ResponderExcluir
  2. Arlequins, colombinas e pierrôs são sempre bem-vindos. E o enredo é a leveza, de preferência. Um grande abraço, Ricardo.

    JF

    ResponderExcluir