quarta-feira, 14 de março de 2012

Cacaso

Jorge Adelar Finatto



Cacaso estaria fazendo 68 anos na data de ontem, 13 de março. Em memória, reproduzo este texto publicado em 02 de outubro de 2010.

Foi o poeta e compositor Cacaso a pessoa que melhor traduziu, até hoje, o sentido do que escrevo. Devo a ele a leitura mais luminosa e mais profunda. O texto foi publicado no jornal Leia Livros, na coluna Vinte pras duas, em 1982. Era sobre meu livrinho de poemas Viveiro, lançado em São Paulo, em 1981, pelo Grupo Sanguinovo.

Fiquei surpreso e feliz com o que ele escreveu, e havia bons motivos. Cacaso é um poeta raro, dos melhores que tivemos na segunda metade do século XX*. Escreveu poemas e letras de música como poucos. Fez parcerias com Tom Jobim, Edu Lobo, Sueli Costa, Djavan, Francis Hime, João Donato, Macalé, entre tantos. Foi professor na Faculdade de Letras da PUC do Rio de Janeiro. Tinha uma leitura muito lúcida sobre o Brasil e nossa cultura. Era um intelectual refinado e, ao mesmo tempo, uma pessoa simples e generosa. Conhecia as ruas das grandes cidades e conhecia o interior brasileiro. Conhecia e amava o nosso povo.

Em 1985, tive o único encontro com ele, visitando-o em seu apartamento na Avenida Atlântica, no Rio. Recordo a ampla sala com piano de onde se via o mar de Copacabana. E uma outra sala, local de trabalho, que tinha um armário repleto de fitas com músicas gravadas. No trato pessoal, revelou-se muito atencioso, disposto a falar e ouvir.

Cacaso (Antônio Carlos Ferreira de Brito, 1944 - 1987), esse homem, esse poeta, esse pensador, foi um pecado morrer tão moço, com tanto ainda para nos ensinar, nos ajudar a entender e nos escutar.

A poesia do Jorge Adelar Finatto é breve, sem muitos volteios, incapaz de autocomplacência e dotada de uma região de silêncio que lhe comunica transcendência. O poeta vê o cotidiano como um absurdo rotineiro, um lugar onde o escândalo já não escandaliza e onde certa dose de perversidade e dureza torna-se um antídoto necessário à sobrevivência.


Cacaso

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Foto: Cacaso. Divulgação. Revista Bravo online, março de 2009. Ilustra excelente texto de Geraldo Carneiro sobre o poeta. bravonline.abril.com.br

* A antologia lero-lero, da editora Cosac & Naify, lançada em 2002, é uma bela mostra do trabalho de Cacaso.

Vale a pena visitar a bonita página criada pela cantora Rosa Emília para Cacaso no facebook:



2 comentários:

  1. Grande Cacaso, nutro por esta figura sincera admiração.
    Pena que ele não ficou por este mundo por mais tempo para dar seguimento ao seu belo trabalho.
    Dentro de mim mora um anjo, Lambada de serpente, Meio termo e tantas outras letras maravilhosas, são legado de Cacaso.
    Pena que as gerações mais atuais nem tenham ouvido falar dele...

    Abs.

    Ricardo Mainieri

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    1. Há uma música do Cacaso chamada Cavalo Marinho, na internet, lindamente cantada por Rosa Emília. Uma maravilha que merece ser vista. Um pequeno exemplo do importante trabalho do Cacaso na poesia e na composição.

      Um abraço.

      JF

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