segunda-feira, 3 de setembro de 2012

A cidade dos ipês (e do medo nas ruas)

Jorge Adelar Finatto
 
photo: j.finatto


Os ipês invadiram Porto Alegre nesses dias que antecedem a primavera (começa no dia 22 de setembro). A beleza dessas árvores nas ruas da cidade impressiona. No inverno passam sem ser notadas. Agora explodem.
 
A elevação da temperatura em agosto, em pleno inverno, precipitou a floração. Nos últimos dias do mês, contudo, voltou a esfriar bem, ventou, choveu. Não sei o que será das flores com a brusca mudança. Por enquanto estão aí.

Como todos os seres vivos, as flores precisam de reservas de saúde e paciência para agüentar o desequilíbrio provocado pelo homem. Uma coisa danada.


photo: j.finatto

Os ipês, como nós, são sobreviventes de um clima louco. As cores vivas, variadas e delicadas transformam o espaço público em algo mais bonito.

Numa cidade onde quase não se pode sair à noite a pé devido à violência, isto é um consolo. A cidade ferida sabe ser dura com a leveza e com a inocência. Mas ostenta, ironicamente, um alto nível de arborização, entre os maiores do mundo. O Guaíba com suas águas doces e largas colabora com esse ambiente.


photo: j.finatto

Não é possível ficar indiferente a um ipê de flores cor-de-rosa (ou brancas ou amarelas ou roxas) iluminando a calçada.

Na medida em que as flores vão caindo, formam tapetes no chão que os distraídos pisam.

Se alguém está pensando em se matar por esses dias, recomendo: antes do ato-extremo-pura-desilusão-ressaca-de-viver, saia um pouco de casa e vá andar pelas ruas do seu bairro em meio aos ipês. Talvez mude de ideia.

O espetáculo das árvores em Porto Alegre mostra que a vida pode ser muito mais do que fazem crer os semblantes tensos e melancólicos que habitam as nossas ruas.

 

2 comentários:

  1. Esses dias, Adelar, li uma explicação esotérica para a depressão das pessoas quando o sol se oculta, como no outrora rigoroso inverno riograndense.
    Ramatís, um indochinês, em um de seus livros fala que o sol fornece a nossa dose diária de Prana, um vitalizante natural e algo etéreo, que os orientais facultam como vitalizante de nossos corpos físicos e sutis.
    Assim, nos dias de pouco sol, existe pouco prana, logo as pessoas mais sensíveis tendem mais aos estados melancólicos.
    Aprecio este vivificar da Natureza nesta cidade dura. Os ipês e os guapuruvus são nossas árvores de maior beleza.
    Uma crônica a elas, então.

    Abraço.

    Ricardo Mainieri

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  2. Que a primavera nos traga de volta o encanto de fazer parte do mundo.

    Um abraço, caro Ricardo.

    JF

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