A injustiça não se resolve.
À sombra do mundo errado
murmuraste um protesto tímido.
Mas virão outros.*
31 de outubro, 1902. Itabira do Mato Dentro, Minas Gerais. Nessa data e nessa cidade nasceu Carlos Drummond de Andrade. Hoje comemoram-se 110 anos de seu nascimento.
Sinto saudade do poeta como de um irmão mais velho. Desta natureza são as admirações literárias, que se transformam em afeto, respeito e falta.
Morto aos 84 anos, em 17 de agosto de 1987, 12 dias depois da morte da única filha, a escritora Maria Julieta, Carlos foi - e é - um dos nomes mais importantes da poesia de língua portuguesa.
Notabilizou-se, também, como cronista e contista refinado, de leitura obrigatória nos jornais em que seus textos eram publicados. O bardo de Itabira conseguia fazer uma interpretação solar dos acontecimentos e dos não-acontecimentos. Captava como poucos a essência das coisas e dos sentimentos.
Notabilizou-se, também, como cronista e contista refinado, de leitura obrigatória nos jornais em que seus textos eram publicados. O bardo de Itabira conseguia fazer uma interpretação solar dos acontecimentos e dos não-acontecimentos. Captava como poucos a essência das coisas e dos sentimentos.
A poderosa lente com que mirava o ser-no-mundo produziu uma das obras mais belas da nossa literatura. Seus textos são fonte de consolo e beleza.
Enxergava nossas qualidades e defeitos, nutria uma irredutível esperança na existência, mesmo desiludido.
O bom humor é outro traço marcante de sua visão de mundo.
O humanismo da expressão, em Drummond, sempre foi revelação no deserto.
O humanismo da expressão, em Drummond, sempre foi revelação no deserto.
O poeta nos toca e nos ajuda a viver. Amoroso e lúcido, seu verso nunca sai indiferente ao destino humano.
Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
Sempre, e até de olhos vidrados, amar?**
É nessa vida prolongada da palavra escrita que podemos ter o poeta conosco tempo afora.
Convivente, irmão.
__________________
*Trecho do poema Consolo na Praia, da Antologia Poética de Carlos Drummond de Andrade, Editora Abril, São Paulo, 1982.
**Trecho do poema Amar, idem.
Foto do poeta copiada do site da Editora Companhia das Letras:
http://www.companhiadasletras.com.br/autor.php?codigo=02213
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