Jorge Adelar Finatto
Choravas à beira do canal na tarde de domingo.
Me olhaste com os olhos mais tristes do mundo. Passageiro efêmero no barco, numa cidade distante e povoada de labirintos, eu nada podia fazer.
Eu estava de passagem entre um cais e outro, um quarto e outro, um deserto e outro.
Me olhaste com os olhos mais tristes do mundo. Passageiro efêmero no barco, numa cidade distante e povoada de labirintos, eu nada podia fazer.
Eu estava de passagem entre um cais e outro, um quarto e outro, um deserto e outro.
Devia talvez ter me jogado nas águas turvas daquela tarde de domingo em Amsterdam. Nada era mais importante do que ir ao teu encontro.
Devia ter passado o resto do dia contigo, em silêncio, ali naquele banco, sem nada dizer (palavras só atrapalham).
Devia ter passado o resto do dia contigo, em silêncio, ali naquele banco, sem nada dizer (palavras só atrapalham).
photo: j.finatto. Amsterdam |
Quem mastigou teu coração, pisou em cima e depois jogou no fundo das águas?
Por quem choras, Maria Filipa?
Por quem choras, Maria Filipa?
A cara de anjo, o capuz azul da solidão, os olhos mais tristes acompanhando o barco que passava, me olhavas.
Da minha solidão eu te acenei.
Da minha solidão eu te acenei.
Foi tudo que fiz dentro do barco inútil. Mas por um instante tuas lágrimas secaram e teu olhar seguiu a embarcação. Depois tua cabeça caiu sobre o colo outra vez, onde tuas mãos pálidas repousavam.
O barco sumiu sob as pontes.
photo: j.finatto. Amsterdam |
O barco sumiu sob as pontes.
Entre dois cais, entre dois nadas.
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