segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

A Bíblia e a literatura

Jorge Adelar Finatto


Cópia da Bíblia de Gutenberg, Congresso dos Estados Unidos.
Fonte: Wikipédia
 

A Bíblia é provavelmente o livro mais editado e mais lido do mundo, embora nunca ou quase nunca figure nas listas dos mais vendidos. E é, também, um livro que precisa ser melhor estudado e compreendido. Um excelente presente é dar a alguém um exemplar da Bíblia, no Natal e em qualquer época.

Quem ama a literatura não pode deixar de conhecer a Bíblia, que é literatura de primeira qualidade. A palavra bíblia significa coleção de pequenos livros - ao todo 66 livros a compõem. Eles constituem o cânon bíblico, os livros escolhidos, sendo que outros foram rejeitados. A obra também é conhecida com a designação de Escrituras Sagradas por trazer a Palavra de Deus.

Os textos vão de Gênesis (a história da criação e dos primeiros tempos) até Revelação ou Apocalipse (o fim do atual sistema de coisas e o início de outro). São cerca de 40 os homens que os redigiram, sob inspiração e direção divinas, segundo os estudiosos.

Os 39 livros iniciais integram as Escrituras Hebraicas (Velho Testamento), escritas em hebraico e um pouco em aramaico, e os restantes 27 são as Escrituras Gregas Cristãs (Novo Testamento), escritas em grego a partir do nascimento de Cristo.
 
Os livros bíblicos são obras-primas do ponto de vista literário e constituem importantíssima referência religiosa e cultural da civilização judaico-cristã. A maneira de narrar e o conteúdo dos textos são primorosos. De certa forma, tudo está na Bíblia e todos os outros livros devem-lhe tributo.

As histórias mais fantásticas, os mais belos poemas, os sentimentos, as aventuras, o luminoso e o sombrio, nada escapa. O que se vê é o ser humano em carne e osso, com suas misérias e grandezas, não idealizado, votado à elevação moral e espiritual.

Deus aparece como um ser extremamente amoroso e bondoso, mas também capaz de irar-se e punir as pessoas pela reiteração de erros graves. A redenção (libertação) pelo perdão e pelo arrependimento surge como uma das principais vias de ascese do homem (a designação homem, na Bíblia, inclui geralmente homens e mulheres, conforme Gênesis 1:27).
 
A Bíblia é o único livro que está sempre na minha cabeceira. Creio que se trata de uma leitura inesgotável. Sempre há algo novo que não tinha percebido. Tem coisas que não compreendo, algumas são assustadoras (como a destruição de Sodoma e Gomorra e o modo terrível como as pessoas se comportavam naqueles lugares), mas nem por isso desisto de ler, aprender e me encantar.

Há textos incríveis como as histórias de Jó e Jonas, este preso na barriga do grande peixe. Todos os lugares citados existem geograficamente e os dados históricos são rigorosamente verdadeiros. É uma viagem pelo tempo e pela história humana. A impressão que tenho é que quanto mais se lê mais se abrem as portas da percepção para compreender o que está escrito.

Um dos meus livros prediletos é Tiago, escrito por Tiago, irmão de Jesus.

Um dos textos mais poéticos e sensuais que já foram escritos sobre o amor entre homem e mulher está em O Cântico de Salomão, escrito por Salomão.

Podemos ler os livros em ordem ou não. Algumas histórias, por outro lado, às vezes são entendidas de forma errônea.

Um dia desses ouvi alguém dizer que Adão e Eva foram expulsos do Paraíso porque tiveram relações sexuais, transaram contra a vontade divina. Segundo esta pessoa, a expulsão foi injusta, porque fazer amor é um fato natural, não podendo ser considerado pecado, muito menos passível de pena tão violenta. Esta, no entanto, é uma visão equivocada na origem.
 
De fato, não há no relato bíblico afirmação de que a expulsão do famoso casal tenha ocorrido por terem tido relações. Pelo contrário, a orientação de Deus, no livro de Gênesis, escrito por Moisés, é clara: Sede fecundos e tornai-vos muitos, e enchei a Terra ( Gênesis 1: 28). Não existe vedação ao sexo.
 
O que está escrito é que a transgressão de Adão e Eva foi outra: comeram do fruto da árvore do conhecimento do que é bom  e do que é mau, o que lhes fora expressamente proibido (Gênesis 2:17). Podiam comer qualquer outro fruto das árvores do jardim do Éden.
 
Ao decidirem provar de tal fruto, sob influência do Diabo (agindo através da serpente), ambos abriram a mente para conhecer aquilo que até então ainda não conheciam: o mal. Pela desobediência, foram mandados embora e tornaram-se mortais.
 
Há motivos de sobra para a leitura da Bíblia, independente da crença religiosa, a começar pelo monumental valor literário.
 
A leitura do texto bíblico feita em conjunto com outras pessoas pode ser muito útil, pelas reflexões que suscita e pela ajuda que os mais experientes podem oferecer ao seu entendimento.

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Fontes de pesquisa:
Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas, Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados, São Paulo, 1986.
Estudo Perspicaz das Escrituras, idem, 1992.

O prisioneiro da Ilha de Patmos:
http://ofazedordeauroras.blogspot.com.br/2012/03/recordacao-da-ilha-de-patmos.html

jfinatto@terra.com.br
 

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