Jorge Adelar Finatto
photo: j.finatto. Passo dos Ausentes. Vale do Olhar |
Nem todo livro se escreve só por vaidade.
Numa certa medida, a vaidade, sem exageros, faz bem. Como quando nos leva a cuidar melhor de nós e dos outros. É benigna se se traduz em maior zelo pelo modo como fazemos as coisas.
A vaidade, por exemplo, do trabalho bem feito é justa.
Os melhores textos, creio, surgem a partir de motivações internas profundas, que se impõem movidas pela necessidade de expressar e comunicar.
Escrevemos para entender melhor o mundo e a nós, para sermos ouvidos e, se possível, amados.
Como o músico, o escritor dedilha seu instrumento. Um toco de lápis sobre a folha de papel.
Escrever é um concerto solitário num teatro vazio.
Quem escreve espera que haja alguém do outro lado. Nem sempre há.
Escrever é um concerto solitário num teatro vazio.
Quem escreve espera que haja alguém do outro lado. Nem sempre há.
Meu primeiro contato com a palavra foi através do jornal que o avô lia, ao lado da janela por onde o dia entrava. E também através das cartas que ele escrevia, com a caneta de tinta azul, e daquelas que recebia.
Amar os livros e gostar de escrever é uma coisa. Viver de literatura é outra. No início, achei que como jornalista estaria mais perto da literatura do que em outras profissões. Não era verdade.
A grande carga de trabalho do jornalismo, a intensidade e as preocupações da profissão não permitem maior elaboração do texto. A disponibilidade de espírito para criar fica muito prejudicada. O estresse é constante.
Não consegui em outras profissões o que não alcancei no jornalismo: conciliar trabalho e criação. Descobri que escrever literatura não combina com sobrevivência. Contam-se nos dedos os que conseguem ganhar a vida escrevendo.
Escrever é uma atividade clandestina, exercida nas horas mortas (na verdade, as mais vivas). Pelo menos pra mim tem sido assim, falta-me talvez engenho e arte para reunir as coisas.
O ato de escrever é o que traduz melhor a procura de transcendência na minha passagem pela condição humana.
Escrevo com gosto e entusiasmo e nunca fiz disso meio de vida. Sou amador na inteira extensão do termo: amo o que faço e o faço de forma não profissional.
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