sábado, 10 de novembro de 2012

A literatura morreu (a palavra, não)

Jorge Adelar Finatto
 
 

Agora que a literatura morreu, escrever e ler são atos póstumos, libertos da concorrência e da busca frenética pelos holofotes. Pelo que dizem os arautos do apocalipse, a essa altura somos todos, escritores e leitores, uns pobres moribundos à beira do crematório literário. 

Mas não convém perder a esperança. Poupemos o último suspiro.

Alguns observadores, menos funestos, afirmam que os livros estão perdendo a face humana. É verdade.  A estética e a ética da publicidade, em estreita harmonia com o deus mercado, tomaram conta do mundo dos livros (e de outros mundos), antes um território de culto à beleza e ao espírito. 

Podemos estar vivendo o crepúsculo da era de Gutenberg. O livro como objeto de arte e de cultura tem um futuro incerto pela frente. Menos pelo surgimento de novos meios de leitura, como o livro eletrônico, e muito mais pela perda de valor intrínseco do que se publica. 

Há um estrangulamento de sentido na literatura (o que não vende não tem significado nesse universo - ou é digno de pena). 

A literatura passa por um tempo de anemia como todo o resto. Excesso de autores e de obras, pouca inventividade, rasa originalidade (incluindo cópia de textos alheios na cara dura sem menção das fontes) são alguns dos componentes deste quadro. 
 
A banalização da palavra, o surgimento de escritores com pouca ou nenhuma leitura, a onipresença da linguagem padronizada à maneira fast-food levam ao previsível esgotamento de um certo  tipo de literatura.
 
A palavra não morre. O que morre é a literatura frívola, insípida e mercantil, que pouco ou nada oferece.
 
Nem tudo está perdido. Há escritores dignos deste nome para além dos fogos de artifício, da lista dos mais vendidos, dos modismos, do marketing pessoal, do texto embromador que se escreve com óculos escuros e de olho no dinheiro e na fama.

A boa literatura é um território luminoso, um lugar que não diminui o ser humano. 

O importante, penso eu, é não parar de procurar a alegria que só os livros podem nos dar.

Os clássicos estão sempre aí e é possível identificar, entre os novos, autores que têm algo a dizer. Não desistir da condição de leitor é uma luta que ainda vale o esforço. 

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foto de livros antigos. fonte: freepik.com
 

2 comentários:

  1. Adelar, tenho visto a proliferação de editoras, por vezes de propriedade de gente do ramo, noutras vezes vista como mais um negócio no ramo mercantilista.
    Te oferecem um pacote com noite de autógrafos, orelha escrita por algum escritor do momento, inserção em feiras do livro e algum comentário na imprensa. E o autor paga lá seus dez mil reais e fica feliz em ver seu nome impresso em uma capa a 4 cores.
    Esta é a literatura que mais entope as prateleiras. O cara que faz uma oficina literária por correspondência quer editar um livro, o BBB também, a atriz da moda lança seus poemas intimistas, o garanhão, pagodeiro ou boleiro, contam suas façanhas sexuais em prosa.
    Bem, dessa literatura quero distância, bem como dos títulos de ocasião para a nossa Feira do Livro.
    Viva os clássicos, viva Cortázar, viva Leminski, viva a nova literatura que circula na Internet.

    Abraço.

    Ricardo Mainieri

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  2. Valeu, poeta Ricardo.
    Vamos em frente, aproveitando as coisas boas, que felizmente ainda existem.

    Um abraço, amigo.

    JF

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