Jorge Adelar Finatto
Na viagem de volta a Passo dos Ausentes (o eterno retorno), paro em Gramado para o cappuccino. Enquanto estico os ossos, olho pela janela do café a paisagem da fotografia. Que nunca nos falte esta visão.
Entre Gramado e Canela, na região serrana do Rio Grande do Sul, está uma das mais belas paisagens do Brasil. Um cartão-postal reconhecido internacionalmente. O Vale do Quilombo estende-se entre as duas cidades, em meio a córregos e verdes montanhas. A força desse lugar eleva o espírito e dá paz ao coração.
Conheço a região desde tempos imemoriais. Nasci na Serra, nela passei a infância e parte da adolescência. Passeios e acampamentos, no início dos anos 1970, abriram meus olhos para a beleza desse cenário.
Mas hoje vejo com preocupação o futuro do cartão-postal. Faz cerca de 10 anos intensificou-se o processo de urbanização em Canela e Gramado. São cada vez mais numerosas as clareiras abertas no fundo do vale e nas encostas e cumes dos montes e montanhas. Aumenta o desmatamento.
A explosão imobiliária trouxe junto uma série de problemas, a começar pela deficiente rede de esgotos, fato este que se agrava na alta temporada de turismo. Além disso, nuvens de automóveis invadem as antes pacatas ruas, criando um trânsito veloz e perigoso, no qual acidentes graves passam a ser comuns.
Onde antes havia flores nas janelas, agora há cada vez mais edifícios.
Na estrada entre as duas cidades, multiplicam-se as lojas de venda de automóveis novos e usados, em ambos os lados da via. Proliferam diversos tipos de comércio. Este caminho que já foi rodeado de mata hoje está repleto de edificações. A tal ponto que já não se enxerga o Vale do Quilombo. Para vê-lo, é necessário esgueirar-se entre as paredes.
Não existe sequer um belvedere público na beira da estrada para admirar a vista. Na saída de Gramado para Canela, há um tímido acostamento e um corredor, protegido com mureta de concreto, no qual os visitantes se espremem para observar a natureza, sem nenhum conforto e com o barulho dos automóveis, ônibus e caminhões passando ao lado.
Os animais perdem espaço. Faz tempo que não vejo por aqui uma lebre, um graxaim, um bugio, um veadinho do campo e outros bichos como era comum.
A presença e a variedade dos pássaros já não são as mesmas. Para onde vão? Ninguém sabe. Mas decerto para um ambiente que já não encontram aqui.
O patrimônio ambiental e paisagístico é a maior riqueza das cidades serranas e isto está se perdendo. Não haverá futuro para o turismo, principal atividade econômica da região, se o crescimento desordenado, o concreto e os veículos continuarem a substituir a natureza.
Para quem, como eu, nasceu na Serra, é um triste espetáculo. Sei que a economia precisa gerar empregos e riqueza, as coisas não podem ser como no século passado. Mas sei também que o desenvolvimento não pode se dar à custa da destruição sem trégua do ambiente.
Na estrada entre as duas cidades, multiplicam-se as lojas de venda de automóveis novos e usados, em ambos os lados da via. Proliferam diversos tipos de comércio. Este caminho que já foi rodeado de mata hoje está repleto de edificações. A tal ponto que já não se enxerga o Vale do Quilombo. Para vê-lo, é necessário esgueirar-se entre as paredes.
Não existe sequer um belvedere público na beira da estrada para admirar a vista. Na saída de Gramado para Canela, há um tímido acostamento e um corredor, protegido com mureta de concreto, no qual os visitantes se espremem para observar a natureza, sem nenhum conforto e com o barulho dos automóveis, ônibus e caminhões passando ao lado.
Os animais perdem espaço. Faz tempo que não vejo por aqui uma lebre, um graxaim, um bugio, um veadinho do campo e outros bichos como era comum.
A presença e a variedade dos pássaros já não são as mesmas. Para onde vão? Ninguém sabe. Mas decerto para um ambiente que já não encontram aqui.
O patrimônio ambiental e paisagístico é a maior riqueza das cidades serranas e isto está se perdendo. Não haverá futuro para o turismo, principal atividade econômica da região, se o crescimento desordenado, o concreto e os veículos continuarem a substituir a natureza.
Para quem, como eu, nasceu na Serra, é um triste espetáculo. Sei que a economia precisa gerar empregos e riqueza, as coisas não podem ser como no século passado. Mas sei também que o desenvolvimento não pode se dar à custa da destruição sem trégua do ambiente.
Do jeito que vai, não está longe o tempo em que a visão das casas de madeira, flores, pinheiros, vales, penhascos, arroios e montanhas estará restrita a antigos álbuns de fotografia.
A sanha imobiliária é algo devastador. Assisto ela em várias cidades por onde viajo. Bento Gonçalves, por exemplo, tem prédios suntuosos pendurados nos morros. Balneário Camboriú não tem sol na praia depois das 15 horas, Porto Alegre virou um canteiro de obras(suspeitas) por conta da Copa do Mundo. Os projetos imobilários de luxo invadem a Serra.
ResponderExcluirSem contar a cultura automobilística que gera carros, e compradores, em larga escala.
Para mim, tudo isso é anti-natural.
Quando a situação ficar intransitável, irrespirável e as nascentes e riachos pedirem de volta seus lugares naturais, por conta de enchentes e outros cataclismas, aí talvez o homem se dê conta...
Abraço solidário.
Ricardo Mainieri
As clareiras aumentam a solidão e semeiam o vazio.
Um abraço, Ricardo.
Adelar