A solidão é um negro espantalho que habita os corações.
Agora chegaram as massas de ar polar. Aqui nos Campos de Cima do Esquecimento é assim: aos primeiros movimentos de violoncelo do outono, o tempo se enregela.
Estava arejando livros antigos sobre a escrivaninha, aproveitando uma réstia de sol que penetrava pela clarabóia*, quando o ar gelado da tarde começou a tomar conta.
As primícias do inverno mandam notícias.
Lá fora os ramos e as folhas perdem viço. Tentei resistir só com a blusa de lã, mas não teve jeito. Resgatei o capote azul-marinho do armário.
O frio antecipado traz de volta costumes, reclama providências. Na tarde de domingo, fui até o pinheiro mais robusto do quintal ver se havia caído alguma pinha. Ainda não. As pinhas permanecem penduradas nos verdes galhos, entre grimpas pontiagudas.
Cozinhar pinhão, na chapa do fogão a lenha, é um dos prazeres do frio.
Cozinhar pinhão, na chapa do fogão a lenha, é um dos prazeres do frio.
Enquanto olhava a copa da araucária, deu-se que, no profundo azul do céu, passou voando - num vôo suave e elegante - uma ave de longo pescoço e asas de larga envergadura. Era vôo alto, coisa de duzentos metros, em direção ao poente. Senti gratidão.
As andorinhas já não voam por estas paragens. Partiram em arribação para o Norte, em busca de dias cálidos. Neste canto do planeta, a circulação das seivas diminuiu.
As massas polares vêm me lembrar também que faltam abraços no mundo. Faz muito frio nas almas.
Vertem lágrimas nos olhos das estátuas nas praças.
Mas alguns ainda são capazes do humano gesto. Trazem o sol dentro de si. Esses herdarão a primavera.
As andorinhas já não voam por estas paragens. Partiram em arribação para o Norte, em busca de dias cálidos. Neste canto do planeta, a circulação das seivas diminuiu.
As massas polares vêm me lembrar também que faltam abraços no mundo. Faz muito frio nas almas.
Vertem lágrimas nos olhos das estátuas nas praças.
Mas alguns ainda são capazes do humano gesto. Trazem o sol dentro de si. Esses herdarão a primavera.
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*Nos textos do blog, continuo usando a ortografia atual, e não a do acordo ortográfico, conforme o Decreto 7.875, de 27/12/2012, que postergou a obrigatoriedade das novas regras, no Brasil, para 1º de janeiro de 2016. Até lá, ambas as nornas estão em vigor.
Sobre o assunto:
O acordo ortográfico fazendo água:
http://ofazedordeauroras.blogspot.com.br/2013/03/o-acordo-ortografico-fazendo-agua.html
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O acordo ortográfico fazendo água:
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