Jorge Adelar Finatto
photo: j.finatto |
As manhãs amadurecem no coração da treva.
Como pode alguém tão pequeno querer voar tão longe, sonhar tão alto?
Em meio a portulanos e cartapácios, Claudionor, o Anacoreta, alimenta o sonho.
A quimera do grande encontro o habita.
Ah, as horas passadas entre os livros na caverna, no Contraforte dos Capuchinhos. A cela espiritual onde ele se retira em torno da vetusta mesa, viajando nas páginas, no telescópio, na bruma de estrelas.
Ah, as travessias desoladas pelo invisível. Os altos vôos onde ele se queda a duvidar.
As místicas visões o perseguem desde menino nestes Campos de Cima do Esquecimento.
A mirada do infinito saber, a vertigem do pensar, a busca da unidade com o cosmos. Não ser apenas mais um estrangeiro no universo.
Os mistérios do vir-a-ser. O terrível peso do aqui e agora. As fomes do corpo.
Um dia - Claudionor bem sabe - a face de Deus iluminará o postigo e ele então irá embora da caverna para a casa dEle. Então tudo o mais será pó de luz iluminando a estrada.
Por enquanto, o trevamundo. Escuridão a galope pelo mundo. Coração pulsando no oblívio.
Urgentes prosopopéias o ajudam a povoar o silêncio, a construir o neblinoso itinerário.
Ah, as solitárias caminhadas pela Rua do Farelo, em Passo dos Ausentes.
Prisioneiro do efêmero, Claudionor se lança na antieternidade do instante fugaz.
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Claudionor, o Anacoreta, é místico e astrônomo amador. Vive numa caverna no Contraforte dos Capuchinhos, em Passo dos Ausentes
Texto revisto, publicado antes em 09 de março, 2011.
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