Jorge Adelar Finatto
pintura: Maria Machiavelli |
Um homem de coração triste pode entristecer a vida de muita gente.
O sol está preso no sótão da casa do homem sem esperança.
Em uma manhã de infinita tristeza, ele ergueu os braços, apanhou o sol com as duas mãos, como se fosse uma laranja, e o levou para o trevoso lugar. Desde então, não mais o devolveu para a rua onde mora.
Em uma manhã de infinita tristeza, ele ergueu os braços, apanhou o sol com as duas mãos, como se fosse uma laranja, e o levou para o trevoso lugar. Desde então, não mais o devolveu para a rua onde mora.
- Nunca, nunca mais vou soltar o sol -, disse a um grupo de meninos e meninas que foram até a frente de sua porta pedir a libertação do astro-rei.
- Ninguém mais vai ver a luz nem receber calor nessa rua.
À noite, os vizinhos observam a estranha claridade que escapa pela claraboia. Raios iridescentes giram entre si, perpassam o espaço e vão em direção ao vazio do universo.
Nenhum, no entanto, fica para iluminar aquele pequeno lugar mergulhado na sombra.
Nenhum, no entanto, fica para iluminar aquele pequeno lugar mergulhado na sombra.
O homem triste tem uma pedra enorme, pesada e fria, no coração. Uma lápide com uma inscrição feita numa estranha, obscura língua que ninguém entende. Ele não consegue mais falar nem sentir.
O roubo do sol foi um ato de desespero, de revolta com coisas más que aconteceram na sua vida. Ao agir dessa maneira, privou a rua e seus habitantes de luz, alegria e esperança.
O roubo do sol foi um ato de desespero, de revolta com coisas más que aconteceram na sua vida. Ao agir dessa maneira, privou a rua e seus habitantes de luz, alegria e esperança.
É preciso trazer urgentemente de volta o homem triste para o convívio da rua, antes que tudo em volta dele congele, antes que os corações sequem, antes que desapareça a vida daquele lugar.
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Maria Machiavelli é artista plástica em Passo dos Ausentes onde mantém ateliê e ensina, às terças e quintas, gratuitamente, técnicas de pintura.
Texto revisto, publicado antes em 12 de setembro, 2011.
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