terça-feira, 29 de outubro de 2013

Porta aberta

Jorge Adelar Finatto


imagem de livro. fonte: jornal Público, Portugal.
 
 
Leio que o mundo dos blogues está à beira do precipício. Um escritor que costumo ler escreveu que estava pensando em abandonar o seu blog por falta de leitores, achava melhor fazer outra coisa.

Faz tempo que ele não publica um texto novo e eu, como seu leitor, sinto falta. Há uma espécie de velório antecipado deste meio de comunicação, democrático por excelência. Eu detesto velórios.

Prefiro as salas de espera das maternidades.
 
Muitas pessoas que têm blog (a maioria, acredito) não dispõem de outra opção, isto é, não têm onde publicar seus textos nos meios impressos tradicionais. Os blogueiros, com não muitas exceções, estão fora da era de Gutenberg, de onde foram expulsos pela falta de interessados em seus escritos. Faço parte deste time. 
 
Acontece que tem gente escrevendo e fazendo boas coisas nesse "velho e moribundo" mundo dos blogues. Não estamos falando, portanto, de falta de páginas interessantes.
 
Eu vim para a blogosfera impelido pela oportunidade que a internet proporciona, fazendo do indivíduo seu próprio editor, independente de intermediários. Nenhum outro meio é tão instantâneo e livre. Me acostumei ao novo modo de publicar, que além de tudo dispensa a derrubada de árvores para fazer papel e é extremamente acessível a todos em qualquer lugar do planeta.
 
Isso não significa que abandonei os livros de papel. Pelo contrário, cada vez amo mais os meus livros. Sou um fantasma do mundo de Gutenberg.  Enquanto publico no blog, meu espírito vagueia por sebos e livrarias como alma penada.

Gosto de sentir a textura do papel entre os dedos, o cheiro inefável das folhas. Aprecio levar o livro aonde vou, sinto falta de tocar no objeto.
 
A minha biblioteca caseira está cheia e quase não tem mais espaço para novas aquisições. Os da família se entreolham toda vez que chego em casa com um novo volume. Devem se consolar, talvez, pensando: ao menos ele não tem outros vícios (que se saiba).
 
Os livros e a leitura são uma doce e vital cachaça. Como disse Drummond, no poema Explicação, todo mundo tem sua cachaça. Não sou avesso a novidades e estou pensando a sério em comprar um leitor eletrônico de livros.
 
Não sei se a era dos blogues está no fim. Mas uma coisa eu sei: leitores não vão deixar de existir. Onde houver bom conteúdo haverá leitores por perto.

Mesmo um blog primitivo como este, só de textos e fotografias, encontra alguns interessados. Então, enquanto existir alguém aí do outro lado, estarei por aqui com a porta aberta. 
 

2 comentários:

  1. Por favor, mantenha a porta sempre aberta, com os belos textos e fotos à vista. Abraço, Carlos Souza.

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  2. Estimado Carlos, continuamos na luta, como nos nossos tempos da velha Folha da Tarde e do Correio do Povo. Tempos de Quintana, P.F. Gastal, Caio F. e Sérgio Jockyman, entre tantos. Abraço afetuoso.
    JF

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