Jorge Adelar Finatto
photo: j.finatto |
Secos pássaros dormem em ressequidos ninhos. Secas folhas de plátano se agitam contra o azul. Manhã silenciosa, bailarina morta na caixa de música, seca. Enferrujado relógio de parede, retratos na gaveta, tudo seco.
Secas as lágrimas na face do vento.
Coração seco, boca seca, mãos secas. Secas palavras. Secas pétalas de camélia vermelha dispersas no chão. Secos dedos dedilham secas cordas de violino. Seco, seco.
Secos abraços unem os amantes. Secas velas movem as faluas do Tejo.
Secos olhos olham o pôr-do-sol no Guaíba. Secos, secos.
Secos homens invadiram as ruas da cidade, cometeram tristes barbaridades.
O milharal, tão seco, pegou fogo.
Sentimento e pensamento, secos. O sexo, sem ternura, seco, seco. As páginas do livro de poemas por escrever, secas, secas.
Seco olhar observa no fundo do espelho.
A esperança, um rio seco dentro do coração, talvez volte a amanhecer.
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Texto revisto, publicado em 23, maio, 2011.
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