segunda-feira, 4 de novembro de 2013

O espantalho no milharal

Jorge Adelar Finatto
 

photo: j.finatto

 
Se parar de escrever na casa do labirinto, nesta difícil procura de claridade, se o silêncio e o medo crescerem ao meu redor como um vasto milharal habitado por estranho espantalho vestido de negro, com grossas lentes nos óculos que não ampliam a progressiva e asfixiante pequenez das coisas, esse tal que desistiu do ofício de espantar, sendo ele próprio o contumaz espantado no oblíquo território da existência, se os amigos esquecerem de me visitar nas ermas noites de inverno, se um pássaro soltar o canto no galho da araucária diante da minha janela, se essas palavras que escrevi servirem, ao menos, pra distrair o leitor (?) do problema da morte e da inefável falta de sentido da vida, eu sentirei que valeu a pena.

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Araucária vista da janela, Passo dos Ausentes.
Texto revisto, publicado em 13 de abril, 2011.
 

2 comentários:

  1. Adelar, de certa forma, somos espantalhos, figuras meio heroicas de um tempo de esquecimento.
    Pois tudo que é singelo, amorável, lírico, perde espaço para a tecnologia gélida & seus subprodutos.
    Vamos, então, continuar em nosso ofício de espantar os pássaros de mau agouro, a desinformação, a cultura estereotipada, a falta de afeto, que rondam nosso milharal.

    Abs.

    Ricardo Mainieri

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  2. E vamos cuidar das flores e das manhãs e das tardes e das noites e de todos nós e das estrelas e dos bichos e das águas, antes que fique tudo seco. Um abraço, Ricardo.

    JF

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