segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Dizer com a ponta dos dedos

Jorge Adelar Finatto
 
photo: j.finatto
 
 
Despedida na primavera
 
dia após dia um pouco se envelhece
ano após ano volta a primavera
do vinho a alegria cabe a um copo
não chora a flor as pétalas que fogem
 
                                           Wang Wei

 
Para você que não está familiarizado com a poesia chinesa (como eu), tomo a liberdade de recomendar uma obra que chegou há pouco nas livrarias: Antologia da poesia clássica chinesa*. O livro foi traduzido diretamente do chinês para o português por Ricardo Primo Portugal e Tan Xiao, igualmente responsáveis pela organização, introdução e notas.
 
A publicação é da Editora Unesp com participação do Instituto Confúcio na Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho.
 
Não posso avaliar os méritos da tradução, pois para mim o chinês é, literalmente, chinês, isto é, impenetrável. A obra traz os textos, também, em caracteres chineses.
 
Mas a julgar pela leitura em português, acredito que é um trabalho meticuloso e bem realizado. Se não conheço nada do idioma de partida, conheço razoavelmente o de chegada.
 
Os poemas vertidos revelam achados de sintaxe, além de estranhamento e beleza, essenciais na poesia.
 
Estamos falando de poemas escritos entre os anos 618 e 907 d.C., durante a Dinastia Tang, período considerado a época de ouro da literatura chinesa clássica.
 
Por se tratar de trabalho inédito (talvez a  primeira coletânea representativa daquele momento literário), certamente contribui para a aproximação cultural entre China e Brasil, o que não é pouco considerando o histórico distanciamento entre os dois países.
 
E o que encontramos neste conjunto de poemas produzido por vários autores chineses antigos?
 
Há uma delicadeza no dizer as coisas, um tocar com a ponta dos dedos, textos que muito mais sugerem do que nomeiam ou revelam. São criações verbais de pouca extensão e alta intensidade, que confiam na capacidade de desvelamento do leitor e na sua cultivada sensibilidade. Ricos em sugestões semânticas, os poemas são, por isso mesmo, abertos a interpretações e à participação criativa de quem lê.
 
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*Antologia da poesia clássica chinesa. Dinastia Tang. Tradução, organização, notas e introdução por Ricardo Primo Portugal e Tan Xiao. 312 páginas. Editora Unesp, São Paulo, 2013.

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