Jorge Adelar Finatto
Praia da Pedreira, Parque Estadual de Itapuã, sul de Porto Alegre. Fonte: Wikipédia. Autor: Paulo RS Menezes |
A função dos domingos de verão era pegar o bonde, ir até o centro da cidade e dali tomar um ônibus até uma das praias da zona sul de Porto Alegre. Era assim nos anos 1960. As águas do Guaíba tinham a superfície pintada de azul e eram boas para banho.
Lembro que saíamos cedo de casa para aproveitar o dia. A galinha com farofa era o almoço que ia acondicionado na pequena panela dentro da sacola. Algumas bananas e fatias de pão com chimia eram reservadas para o lanche do meio da tarde. Junto iam duas garrafas de suco feito com pó artificial misturado com água (não havia dinheiro para refrigerantes).
Levávamos também uma bola de plástico, duas bóias (que inflávamos assoprando no bico), toalhas e a esteira para estender na areia.
A jovem mãe e os três filhos, todos com menos de 10 anos. Não havia pai. Cada um de nós carregava uma sacola. O trajeto de bonde até o centro era tranqüilo. Depois caminhávamos duas ou três quadras até chegar ao ponto de ônibus. E esperávamos de pé, sob o sol, numa fila grande, até que algum deles chegasse.
Parecia que todas as famílias pobres da cidade tinham a mesma idéia de ir à praia no domingo.
Parecia que todas as famílias pobres da cidade tinham a mesma idéia de ir à praia no domingo.
Quando enfim chegava o ônibus (que uns chamavam de navio negreiro), a fila andava. Claro que a maioria das pessoas ia de pé, apertada no corredor. Os assentos eram destinados aos poucos sortudos que entravam primeiro.
A viagem até as praias era animada, durava cerca de 50 minutos. As pessoas falavam alto, contavam causos, faziam piada, crianças corriam entre as pernas dos adultos. Afinal, era domingo, a alegria fazia parte do passeio e ajudava no desconforto.
A viagem até as praias era animada, durava cerca de 50 minutos. As pessoas falavam alto, contavam causos, faziam piada, crianças corriam entre as pernas dos adultos. Afinal, era domingo, a alegria fazia parte do passeio e ajudava no desconforto.
Até que a porta se abria e descíamos na nossa praia, o Guarujá (havia várias outras). Corríamos para a beira do rio, para ver e respirar as águas. Em seguida, esticávamos a esteira, arrumávamos as sacolas ao lado, trocávamos de roupa num dos precários vestiários. Depois era correr e se jogar no Guaíba.
Aproveitávamos até as 5 da tarde. Depois era hora de arrumar as tralhas, ir para a fila do ônibus outra vez e fazer o caminho de volta. A gente vinha com a pele avermelhada, a areia grudada no corpo, as caras de cansaço e sono.
A aventura dominical terminava com um banho sonolento embaixo do fraco chuveiro elétrico. Antes de adormecer, a lembrança dos últimos reflexos do sol sobre as águas, o toque cálido da água, a visão dos barcos dos pescadores.
Até que algum navio passava ao fundo da aquarela e levava nossos sonhos com ele.
Até que algum navio passava ao fundo da aquarela e levava nossos sonhos com ele.
Nenhum comentário:
Postar um comentário