Um súbito apagão mergulhou a todos no breu profundo, o mesmo que dominava o Brasil naqueles anos difíceis. No grande saguão cerca de 200 pessoas aguardavam para assistir a uma palestra. Talvez com o ator, dramaturgo e escritor paulista Plínio Marcos (1935-1999), num encontro que foi memorável. Mas não tenho certeza. Devia ser 1978, 79, 1980 quem sabe. Como a maioria das pessoas ali presentes, eu era estudante de jornalismo.
A ditadura militar no Brasil (1964-1985) se encaminhava pela abertura "lenta e gradual" iniciada pelo general-presidente Ernesto Geisel (1907-1996). As palestras na Faculdade de Comunicação Social da PUC, em Porto Alegre, eram com pessoas que, além de fazer um balanço do período de exceção, trabalhavam pela democratização, projetando o futuro dentro da democracia. Vinham artistas, sindicalistas, escritores, professores, jornalistas, cientistas, homens e mulheres que pensavam o Brasil.
Havia então muita esperança. Precisávamos, mais que tudo, de esperança pra suportar o tempo mau. E de muita disposição para reconstruir um país e nossas vidas nele.
A ditadura colheu as pessoas da minha geração em plena infância. Fomos criados no cercado do pensamento único. "Brasil, ame-o ou deixe-o" era um dos adágios da propaganda de Estado.
A ditadura colheu as pessoas da minha geração em plena infância. Fomos criados no cercado do pensamento único. "Brasil, ame-o ou deixe-o" era um dos adágios da propaganda de Estado.
Esperávamos no saguão a abertura do auditório. A treva tomou conta. Era a metáfora da situação vigente. Muita gente no escuro, sem saber como sair do calabouço daqueles anos duros.
No início houve um silêncio, uma espera inquieta sobre o significado do apagão. Pouco a pouco as conversas foram retomadas.
No início houve um silêncio, uma espera inquieta sobre o significado do apagão. Pouco a pouco as conversas foram retomadas.
Em meio à grossa escuridão, começaram a ser acesos fósforos, isqueiros, folhas de caderno como tochas. Pontos de luz passaram a brilhar formando claridades, que foram se espalhando. O breu já não nos engolia. Havia um ritual de instauração da luz. Não era uma grande luz, eram intermitentes chamas rebelando-se contra a treva.
A luminosidade era a soma da luz de cada um. Não era uma luz sozinha. Pequenas luzes dissipavam o medo.
Somos centelhas luminosas. Só que muitas vezes não nos damos conta dessa energia.
Quando deixamos a luz escapar da escuridão que nos habita, rompemos o breu, fundamos claridade.
Quando deixamos a luz escapar da escuridão que nos habita, rompemos o breu, fundamos claridade.
Pelo menos foi isso que senti na ocasião e sinto ainda hoje. Nunca esqueci. Nunca esqueço. Quando a luz voltou, já estávamos iluminados.
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