Senhor
quando chegar
a minha vez
de cruzar a ponte
deixa eu levar comigo
no alforje de nuvem
os dias de sol
as tardes
de outono
os pinheiros
da serra onde
nasci
deixa eu levar
o som do riacho
as antigas
conversas
da Rua São João
me concede
a memória
dos amigos
da infância
na bruma
que serei
me alcança
um bosque
e pássaros
para tecer
a minha casa
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Poema do livro O habitante da bruma, Editora Mercado Aberto, Porto Alegre, 1998.
A Indesejada das Gentes, como definiu Bandeira, vista de uma maneira peculiar. Com a suavidade deste poema até torna-se menos implacável nossa viagem para o outro lado da vida. Abraço. Ricardo Mainieri
ResponderExcluirO problema da morte é o manto de silêncio com que envolve o morto. O manto de rijo basalto. E fecha-lhe os olhos de tal modo que não pode mais admirar as nuvens, os córregos e nem as quaresmeiras que nessa época são tão bonitas. Pra completar torna-o completamente álgido (beijar o morto é como beijar um pedaço de gelo). O coração da gente fica despedaçado. Enfim, da morte acho que nada se salva nem aproveita. Espero a mão de Deus na travessia e que Ele me acuda do outro lado quando lá chegar com as minhas tralhas. Mas não tenho nenhuma pressa... Um abraço vivo, Ricardo.
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