Jorge Adelar Finatto
photo: jfinatto |
Escrever é estar vivo. Compartilhar isso com o outro é uma forma de claridade . Navego pelo universo a bordo do calepino silencioso, sem sair do lugar. O texto no computador vem depois da viagem.
Esse sentimento aconteceu durante uma bruta falta de luz que lançou a casa e toda a rua e talvez o bairro todo no mais profundo breu.
Esse sentimento aconteceu durante uma bruta falta de luz que lançou a casa e toda a rua e talvez o bairro todo no mais profundo breu.
Saí pelos armários e gavetas às cegas, apalpando em busca de coisas capazes de substituir a luz elétrica que desaparecera, pra continuar as anotações que estava fazendo.
Me senti um apanhador de estrelas, perseguindo velas, fósforos, lanternas, isqueiros, lamparina a óleo, qualquer coisa que pudesse iluminar a escuridão que me cercava naquele momento.
Não tenho apreço pelo lado escuro. O breu das almas, o breu da vida, me desacostuma da alegria. Gosto de claridades.
A escuridão me desabriga.
Por fim, encontrei uma vela de tamanho razoável com força de moer o escuro. Caderno à mão, retomei a busca de extrair o incomunicável, o desconhecido, o lado escuro dentro de mim, na esperança da rara luz que verte da palavra.
O homem é palavra.
O que é um texto, raro leitor, senão um telescópio mirando a espessa névoa dos corações? Quem, senão a palavra, pode vasculhar esse vasto território, dar-lhe alguma voz, forma e sentido?
Quem, senão a palavra, pode nos valer perante nós e o outro?
O que é um texto, raro leitor, senão um telescópio mirando a espessa névoa dos corações? Quem, senão a palavra, pode vasculhar esse vasto território, dar-lhe alguma voz, forma e sentido?
Quem, senão a palavra, pode nos valer perante nós e o outro?
Palavra sem esquecer de ser silêncio. Palavra e silêncio.
Na noite calada, o apanhador rumina o escuro, visita distâncias, ruínas, abraça ausências, faz apontamentos, cultiva paciência, estuda as anotações de outros exploradores do universo, ajusta as lentes do seu instrumento. Deseja querer.
É noite de outono, frio, beira do inverno. Viajo pelo cosmos, visito o brilho azul de estrelas que já se apagaram, desvelo sombras inumeráveis, vou à procura do que é e respira, quero conhecer um pouco esse mistério.
O apanhador espreita a noite infinita do mundo em busca de um sinal, um movimento, uma luz generosa e tênue que ilumine os aposentos interiores da casa chamada ser humano.
É noite de outono, frio, beira do inverno. Viajo pelo cosmos, visito o brilho azul de estrelas que já se apagaram, desvelo sombras inumeráveis, vou à procura do que é e respira, quero conhecer um pouco esse mistério.
O apanhador espreita a noite infinita do mundo em busca de um sinal, um movimento, uma luz generosa e tênue que ilumine os aposentos interiores da casa chamada ser humano.
Eis que a calma luz penetra aos poucos pelas frestas, por debaixo da porta, através do postigo. A luz suave e benigna.
Palavras criam asas, inauguram o vôo.
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Texto revisto e atualizado, publicado antes em 9 de janeiro, 2013.
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